Artigo_Alecrineiros19
Algares do Cabeço dos Alecrineiros - Parte XIX
17 de Dezembro de 2019

Ribeiro, José 1,2; Lopes, Samuel 1,4; Rodrigues, Paulo 1,2,3

  1. Grupo de Espeleologia e Montanhismo, Rua Maria Veleda, 6, 7ª Esq, 2650-186, Amadora, Portugal
  2. Núcleo dos Amigos das Lapas Grutas e Algares 
  3. Comissão Científica da Federação Portuguesa de Espeleologia
  4. Wind-CAM – Centro de Atividades de Montanha, Rua Eduardo Mondelane, lj44, 2835-116 Baixa da Banheira

 

Introdução

Ora cá estamos nós, desta feita seguimos para a zona Norte dos Alecrineiros, alguma pesquisa de trabalhos já realizados, alguma prospeção e muito “trabalhinho”, depois, publicamos 3 algares :  Algar Esquecido, Algar Alecrineiros Norte e Algar Alecrineiros Nortinho.

Figura 1 - Localização dos algares tendo como referência a zona do Marco Geodésico do Cabeço dos Alecrineiros (na seta vermelha)

Algar Esquecido

Foi em prospeção que encontrámos este algar e só uns tempos depois o explorámos. Num dia cinzento e chuvoso lá fomos nós, bem fresquinhos, e valeu bem a pena.
Figura 2 - Entrada do Algar Esquecido (Foto: Jorge Faustino - GEM)
Figura 2 - Entrada do Algar Esquecido (Foto: Jorge Faustino - GEM)
Figura 3 - Zona de entrada do Algar Esquecido (Foto: Jorge Faustino - GEM)
Descrição:
Num campo de lapiás e no meio de 2 bancadas, se assim lhe podemos chamar, situa-se a boca do algar com cerca de 1 metro de diâmetro, boca com grandes blocos e argilas mas ainda assim estável.
Segue-se um poço de 10 metros, no inicio com bastante argila, mas ao descer as paredes são compostas de formas de reconstrução. Aterrámos numa base cheia de argila, mas nas paredes existem algumas estalactites e formas de reconstrução, principalmente em pequenas fendas ali existentes. Continuamos a descer, agora num poço de 8 metros, de inicio apertado mas à medida que descemos alarga e perde-se o contacto com a argila. Chegados à base do poço, com bastantes calhaus, e paredes forradas de calcite, segue-se no sentido OSO, até ressalto de 3 metros.
Após este obstáculo estamos na pequena sala final do algar que se desenvolve no sentido E-O. Aqui existem  bonitas formas de reconstrução em algumas das paredes, o chão é irregular com alguns blocos e cria pequenas poças em alguns cantos.
Geologia:
A gruta aparenta ter um controlo estrutural por uma famílias de fraturas de direcão grosseira NE – SW, subverticais. As camadas regionalmente têm direção aproximadamente NW – SE e inclinação suave para Sul. A gruta desenvolve-se em calcários da formação de Calcários Bioclásticos do Codaçal,  datada do andar Batoniano, do Jurássico Médio.
A gruta aparenta tratar-se de um “vadose shaft” de acordo com a definição de Baron, 2003, sendo que grutas com desenvolvimento essencialmente vertical que conduzem a água do epicarso para as zonas mais profundas do carso.
Presente:
Foi de facto uma agradável surpresa aquela sala final, cheia de beleza e todo o algar não tinha indícios de ter sido explorado. Mas já está cadastrado, topografado e por nós publicado.
Figura 4a - Planta do Algar Esquecido
Figura 4b - Perfil desdobrado do Algar Esquecido
Figura 4c - Ficha de equipagem do Algar Esquecido
Fotos do Algar Esquecido por Jorge Faustino (GEM)
Algar Alecrineiros Norte
Bom este, já bem conhecido e foi graças aos trabalhos já ali efetuados e partilhados que lá fomos, trabalhos esses publicados no blog do Núcleo de Amigos das Lapas, Grutas e Algares (https://nalga.wordpress.com/2008/12/31/teste) e na revista Espeleo Divulgação nº 7, espero não me estar a esquecer de ninguém.
Figura 5 - Entrada do Algar Alecrineiros Norte (Foto: Teresa Cardoso – GEM)
Figura 5 - Entrada do Algar Alecrineiros Norte (Foto: Teresa Cardoso – GEM)
Figura 6 - Zona de entrada do Algar Esquecido (Foto: Teresa Cardoso – GEM)
Descrição:
Ali no cabeço, de onde é visível o Marco Geodésico, num bem composto campo de lapiás, abre-se o algar à superfície, com abertura pequena, pois tem um grande bloco que cobre grande parte da entrada. Segue-se um poço de 8m com a base composta por argila e cascalheira, que se divide em diferentes tramos.
Começamos pelo tramo Norte, pequeno corredor se assim lhe podemos chamar. De seguida o teto sobe um pouco com várias formas de reconstrução, em baixo um poço de 7m em que a sua base é de cascalheira, terminando aí este pequeno tramo.
Voltando à base do P8 e virando para Sul, uma pequena rampa dá acesso a um zona do poço com ampla cabeceira. No sentido Sul nota-se um recanto que deverá ligar a uma zona mais abaixo. Já no sentido Oeste pelo qual se desenvolve o poço, encontramos uma prateleira de boas dimensões, se assim lhe podemos chamar, que fica por cima do desenvolvimento do poço. Não se fez qualquer tentativa para verificar possível ligação.
Segue-se então o poço de 22m, com pequeno ressalto a cerca de 10m da descida. A base do poço é de cascalheira com inclinação no sentido Oeste. Assim que descemos o 1º ressalto temos acesso no sentido NNE a um pequeno tramo, com inclinação no mesmo sentido, zona de pouca altura e fundo de cascalheira de vários tamanhos, terminando uns metros mais à frente em pequenas fendas, todas elas cobertas com cascalheira.
Voltando à base do poço e continuando a descer até ao 2º ressalto, encontramos novo tramo agora no sentido Sul, dando acesso a uma pequena sala com várias ramificações. Destacando no sentido Sul, após ultrapassarmos um pequeno ressalto, uma zona com chaminé de 12m de belas formas de reconstrução e uma pequena fenda no chão que aparenta continuação.
Na pequena sala, seguindo no sentido O, temos acesso após ressalto a uma sala de boa altura, com fendas num recanto ali existente que podem ter continuação, estando assinaladas na topografia. Nesta sala, seguindo no sentido NNE, voltamos à base do poço na sua zona mais a O, ou seja, topograficamente falando fazemos um loop.
Segue-se um ressalto de 3m com rampa de direção e inclinação no sentido ESE, zona em que se anda de pé mas pouco larga e de muita cascalheira, virando de seguida para S e terminando numa pequena fenda que dá acesso a um poço de 3m. Em baixo temos uma zona de acumulação de água. A zona final deste tramo segue inicialmente no sentido ONO e termina no sentido OSO num local apertado em que se vai perdendo altura à medida que avançamos, terminando num pequeno e apertado poço de 3m em que se vê a base de argila, local para onde corre a água em épocas de chuva, terminando aqui este tramo a 40m de profundidade.
Voltando à base do poço inicial (P8), contornando agora no sentido E por pequeno corredor, acedemos após um ressalto com bloco entalado a meia altura a um novo tramo. Inicialmente no sentido NNO, um poço de 2m com prateleira lateral, zona de cascalheira e alguma argila. Já no sentido NE, temos um poço de 17m com algum comprimento mas pouca largura. Seguindo a cabeceira do poço no sentido NE nota-se novo poço depois de um pequeno ressalto de argila, este agora de 10m, terminando em cascalheira.
O poço de 17m é forrado na sua maioria com formas de reconstrução, terminando numa pequena base de alguma cascalheira. Segue-se um novo poço de 13m, este muito bonito, tornando se ainda mais com água escorrendo pelas suas paredes. Termina numa base que tem passagens estreitas para o sector mais abaixo no algar. Um pouco antes de se chegar à base no sentido E, encontramos uma fenda que nos da acesso a nova cabeceira de um poço de 21m, zona com  formas de reconstrução e um pouco apertada, que alarga à medida que descemos. Após uns metros nota-se no sentido E uma concentração de blocos já com calcite. Já no sentido oposto verifica-se agora as passagens estreitas do poço anterior, zona larga e muito bonita com variadissimas formas de reconstrução. A base do poço, já mais estreita, tem logo de imediato 3 poços, se assim lhe podemos chamar, muito estreitos que afunilam no seu final. No sentido E, um novo poço de 4m, inicialmente largo mas vai afunilando com a descida. Segue-se uma zona muito apertada com uma reentrância no sentido S com vários blocos fechando um pouco à frente. Mais para baixo um novo poço com 7m, tipo palhinha no inicio mas um pouco mais largo na sua base, zona de cascalheira e muita argila. Aí, no sentido ONO, foi feita desobstrução que deu acesso a uma pequena sala com muita calcite e uma pequena fenda, diria quase no centro. Voltando à base do poço mas agora no sentido ESE, após um ressalto temos acesso a nova cabeceira de poço, graças a uma desobstrução feita em 2008. Existe aqui uma chaminé de 6m, por onde escorre água, e um ressalto se assim lhe podemos chamar. Antes, no sentido de progressão do poço final de 14m, inicialmente com argila, mas conforme se desce alarga verificando-se duas fendas paralelas nas paredes de onde corre muita água, isto em época de chuva, como foi o caso na altura da elaboração deste trabalho. Digo-vos que é um barulho forte ouvi-la a correr. No centro em baixo, na base do poço de muita argila e cascalho, onde no sentido SO se verifica um pequeno buraco já escavado de onde sopra ar, identificado na topografia, terminando aqui o algar a profundidade de 83m.
Geologia:
A geologia deste algar foi alvo de um artigo que pode ser consultado em: https://nalga.wordpress.com/algar-dos-alecrineiros-resultado-dos-trabalhos/ 
Presente:
Deu-nos uma alegria do caraças, voltar a visitar e perceber o bom trabalho que outros camaradas aqui fizeram, foi graças a partilha deles que ali fomos enriquecer mais o nosso projeto, pois agora os métodos e equipamentos são outros. E o algar, principalmente no tramo que vai aos 83 metros de profundidade é muito bonito e a água dá-lhe outra vida…
Figura 7a - Planta do Algar Alecrineiros Norte
Figura 7b - Perfil desdobrado do Algar Alecrineiros Norte
Figura 7c – Pormenor da sobreposição de poços do Algar Alecrineiros Norte
Figura 7d - Ficha de equipagem do Algar Alecrineiros Norte
Figura 7d - Ficha de equipagem do Algar Alecrineiros Norte
Fotos do Algar Alecrineiros Norte por Teresa Cardoso (GEM)
Fotos do Algar Alecrineiros Norte por José Ventura (GEM)
Algar Alecrineiros Nortinho
O nome deste vem pela proximidade do algar alecrineiros norte e pela sua pequena dimensão. Mas já que ali estávamos… pimbas!
Figura 8 – Entrada do Algar Alecrineiros Nortinho (Foto: Jorge Faustino – GEM)
Descrição: Pequeno algar de entrada muito apertada, segue-se um poço de 5 metros, também apertado e sinuoso. A base de cascalheira e argila tem inclinação no sentido NNO, afunilando e terminando no mesmo sentido.
Geologia:
A gruta aparenta ter um controlo estrutural por duas famílias de fraturas de direção grosseira N-S e NW – SE, subverticais. As camadas regionalmente têm direção aproximadamente NW – SE e inclinação suave para Sul. A gruta desenvolve-se em calcários da formação de Calcários Mícriticos da Serra de Aire,  datada do andar Batoniano, do Jurássico Médio. A gruta aparenta tratar-se de um “vadose shaft” de acordo com a definição de Baron, 2003, sendo que grutas com desenvolvimento essencialmente vertical que conduzem a água do epicarso para as zonas mais profundas do carso. Presente:
Bom, os pequenos algares também são importantes, que é o caso deste. Na cabeceira tinha um velho spit, mas no Cadastro Nacional de Cavidades, nada. Agora já está lá colocado.
Mais tarde após esta publicação lá colocaremos a topografia e a respetiva ficha de equipagem.
Figura 9a - Planta do Algar Alecrineiros Nortinho
Figura 9b - Perfil desdobrado do Algar Alecrineiros Nortinho
Figura 9c – Ficha de equipagem do Algar Alecrineiros Nortinho
Fotos do Algar Alecrineiros Nortinho por Jorge Faustino (GEM)
E assim terminamos mais uma publicação do nosso projeto, que vai crescendo para que consigamos chegar aos nossos objetivos. Agradecermos a todos os que têm participado, mas desta vez um agradecimento especial ao Hélio Frade e André Reis (CEAE), sempre com o seu “afinco” nas desobstruções e ao António Afonso (ARCM) pela partilha de numerosas localizações de novos algares.
 
Abraço e até à próxima…