Algar da Lomba
Projeto Algar da Lomba
30 de Setembro de 2023

Ribeiro, José Introdução, Topografia e Exploração

Rodrigues, Paulo 1,2,3 Geologia e Breve descrição da gruta
  1. Grupo de Espeleologia e Montanhismo, Rua General Pereira de Eça, nº30, 2380-075 Alcanena
  2. Núcleo dos Amigos das Lapas Grutas e Algares 
  3. Comissão Científica da Federação Portuguesa de Espeleologia,Estrada Calhariz de Benfica, 187, 1500-124 Lisboa 
Email de correspondência: paulor2005@yahoo.com

 
Introdução
Em 2021 o GEM inicia o projeto Sistema Regatinho–Lomba, pois sabemos que elas comunicam, mas humanamente ainda não foi feita essa ligação. Começámos então pelo Regatinho mas, depois de termos os orçamentos das bombas de água e da parte elétrica, vimos que não tínhamos tempo (nem dinheiro). Decidimos então por começar pelo Algar da Lomba, com o intuito de o conhecermos melhor, exploramos e topografamos este grande algar.
Figura 1 - Entrada da Gruta do Regatinho
Figura 1 - Entrada da Gruta do Regatinho
Figura 2 - Entrada do Algar da Lomba
Figura 2 - Entrada do Algar da Lomba


Topografia

Eis os equipamentos que usámos para topografar: o aparelho de medição Disto X310 da Leica, um medidor a lazer, que calibrámos diversas vezes, em que o erro nunca foi superior a 0,32, sendo o máximo admissível 0,50. Estas medidas são enviadas por bluetooth para um PDA com o software Topodroid, que nos permitia fazer o rascunho da topografia logo após as medições, ainda dentro da gruta.

Para fazermos o mapa efetuámos 21 saídas, sendo que as últimas 10 foram muito difíceis, pois estávamos já muito longe. Participaram 10 espeleólogos nos trabalhos de topografia, num total de 34 envolvidos também em trabalhos de exploração e logística, e que sem eles seria impossível efetuar a “saga” que foi este grande trabalho topográfico.

Ao todo foram efetuadas 848 estações topográficas e a soma da poligonal que une todas essas estações deu a módica quantia de 2953 metros, havendo ainda mais por topografar certamente.
 
Figura 3 - Leica Disto X310
 
Figura 4 - José Ribeiro a fazer o rascunho topográfico no PDA
Eis o resultado do nosso trabalho, que partilhamos para todos. A planta e perfil desdobrado da topografia do Algar da Lomba ficou com muitos pontos de interrogação, ou seja, locais por explorar. Mas como fica tudo muito longe em relação à entrada, o ideal será encontrarmos maneira de arranjar outra entrada, quem sabe num futuro próximo.
Figura 5a - Planta do Algar da Lomba (em formato pdf)
Figura 5b - Perfil desdobrado do Algar da Lomba (em formato pdf)
Graças aos trabalhos efetuados conseguimos georreferenciar a cavidade no Google Earth e assim ver por onde ela passa à superfície. Vemos ali o Sitio do Amigo Abílio junto à entrada do algar. Também o túnel do metro a passar debaixo da A1, a cerca de 100m de profundidade, assim como a zona do lago, as raízes e o novo meandro que ainda está por explorar.
Figura 6 - Implantação do Algar da Lomba
 

Exploração

Nestes 2 anos que passaram da nossa exploração, há muitas histórias e aventuras que ficaram na memória.

Tudo começou em agosto de 2021. Equipámos o algar com uma corda fornecida pelos bombeiros de Minde, que desde já agradecemos a ajuda prestada, e fomos por ali abaixo. No poço de entrada efetuou-se uma desobstrução com o objetivo de encontrarmos um novo caminho, mas não nos trouxe nada de novo. Também foram alargadas duas passagens chatas que tornaram o regresso muito mais fácil,  desobstruções essas efetuadas por uma equipa do CEAE, para a qual também aqui fica o nosso agradecimento, especialmente ao André e ao Falcão.

Recorda o José Ribeiro: “num dia quente ao sair do algar, bem suado e já cá fora, olho em frente e vejo a correr para mim um grande cão, pastor alemão com uma grande cabeça e olhem voltei para o buraco. Nisto ouço uma voz que me diz: Não tenha medo ele não lhe vai fazer mal…, pois, mas só depois do grande cão estar preso é que saí da entrada do algar e falei com esse senhor, o dono do cão. Conversa puxa conversa, fomos à sua quinta beber uma fresquinha e tornou-se um grande amigo, o nosso amigo Abílio, que muito nos tem ajudado, disponibilizando sempre o seu espaço para que consigamos chegar aos nossos objetivos. E acreditem que muitas vezes após 16h de exploração sabe tão bem, mesmo ali ao lado, um duche de água quente, o conforto de uma lareira e a companhia de bons e verdadeiros amigos.”
Figura 7 - Poço da Cabra
Figura 8 - Pormenor do Tridente e da Galeria do Metro

O algar é bastante extenso. Seguimos por ali fora passando pela zona que chamamos Tridente por ter 3 caminhos. Aqui, no caminho da direita, a topografia foi feita pelo José Ribeiro (GEM) com o Pedro Fazenda (AESDA). Mesmo em frente encontrámos umas cordas lá colocadas que ao mexermos nelas simplesmente os mosquetões que estavam a segurá-las se desfizeram… tivemos que nos desenrascar com o que tínhamos, e lá seguimos. Fomos mais tarde pela Galeria do Metro, que passa debaixo na A1. O nome deve-se à dimensão e forma desta conduta (ver Figura 9), onde circulou muita água há milhares de anos.

Continuámos até chegarmos à zona da falha. Aqui o algar muda novamente de configuração e de que maneira! Tivemos aqui algumas peripécias: o Paulo Lopes (GEM) nesta zona encontrou o “buraco que sopra”, que fica a 4 metros de altura. Mais um ponto de interrogação, este o menos longe de todos.

Na zona do corrimão (ver Figura 10) tivemos de retirar as cordas e alguns pontos de amarração que lá estavam para nossa segurança e futuras explorações. Bem perto aqui, por  baixo do corrimão, foi onde os eslovenos deixaram a placa de 1992.
Figura 9 - Galeria do Metro
Figura 10 - Zona do corrimão
Figura 11 - Pormenor do Meandro da Fenda e Meandro do Lago

Seguimos em frente até chegarmos àquele que chamámos de Meandro da Fenda, pois uma fenda acompanha todo este meandro (ver Figura 12). Esta é para nós talvez a zona mais perigosa da gruta, pois embora parecendo fácil, uma queda aqui pode ser fatal. A fenda que acompanha o meandro tem zonas muito fundas (ver Figura 13).

Figura 12 - Meandro da Fenda
Figura 12 - Meandro da Fenda
Figura 13 - Pormenor da profundidade do Meandro da Fenda
Figura 13 - Pormenor da profundidade do Meandro da Fenda

Continuando chegámos ao lago, zona bonita mas chata. Experimentou-se atravessá-lo de várias formas, em cuecas (Figura 14), com fato interior, e mais tarde com fato completo (ver Figura 16). Acabámos por optar sempre pelo fato completo pois à saída do lago existe um meandro apertadito de 30 metros que se tornava esfoliante (ver Figura 15).

Figura 14 - Topografando o Lago
Figura 14 - Topografando o Lago
Figura 15 - Meandro do Lago
Figura 15 - Meandro do Lago
Figura 16 - Passagem do Meandro do Lago
Figura 16 - Passagem do Meandro do Lago
Figura 17 - Pormenor da zona interior labirintica da gruta
Aqui começa a gruta, ou seja, a dificuldade. A partir daqui é tudo apertado, sinuoso (ver Figura 18) e labiríntico. Apesar das dificuldades, levámos material para fazermos um bivaque, ou seja, um pequeno acampamento com fogão, farmácia, comida e muda de roupa, em caso de alguma emergência. Eis o nosso bivaque, que iamos mudando de local conforme iamos avançando (ver Figura 20).
Figura 18 - Pormenor da zona interior labiríntica
Figura 19 - Colocação do fio de ariane
Figura 20 - Pequeno acampamento
Nesta zona, à muitos anos atrás, era habitual seguirmos em frente sempre por cima, pelas galerias das marmitas. Mas acabávamos cheios de nódoas negras, por isso optámos pelo caminho por baixo, visto que ao fazermos esta topografia ficámos a conhecer todos os cantos.
 
Mais à frente, e tal como o nome indica, temos o Labirinto dos Perdidos. Aí esticámos um fio de ariane, para não nos perdermos (ver Figura 19). Aquando da exploração desta zona, o José Ribeiro (GEM) e o Hélio (CEAE), mesmo com o fio colocado, decidiram seguir cada um por uma passagem diferente e depois voltar ao fio. Acabaram por andar hora e meia perdidos, cada um para seu lado. Daí nasceu o nome Labirinto dos Perdidos. Olhando para o lado positivo, graças a este episódio ficou-se a conhecer melhor este labirinto.
Figura 21 - Pormenor das zonas mais distantes da gruta
Após aqueles meandros chegámos às zonas mais distantes desta cavidade. Comecemos pelos meandros sopradores que, tal como o nome indica, são zonas de fortes correntes de ar. No meandro da direita a progressão faz-se a subir ligeiramente, terminando com uma chaminé de 6 metros (ver Figura 22) e um pouco à frente uma estreiteza.
 
Já no meandro da esquerda, a progressão é descendente e termina numa fenda de forte corrente de ar (ver Figura 23).
 
Voltando à sala do descanso, zona que desde o lago é dos poucos locais onde se consegue estar de pé e em grupo (ver Figura 24), passamos agora àquele que batizámos pelo nome de Meandro Esquecido, isto porque é tão grande e a entrada tão visível (ver Figura 25) que é difícil acreditar que não tenha sido referido na anterior topografia. Mas atenção, nunca desvalorizando o excelente trabalho efetuado na exploração e elaboração da topografia existente, a qual foi publicada no livro Grutas e Algares de Christian Thomas, e usada durante décadas por várias gerações de espeleólogos. O nosso agradecimento a essa equipa, pois compreendemos a dificuldade que terá sido só o facto de terem chegado a esta zona.
Figura 22 - Pormenor da chaminé no Meandro Soprador da direita
Figura 22 - Pormenor da chaminé no Meandro Soprador da direita
Figura 23 - Meandro Soprador onde se sente uma forte corrente de ar
Figura 23 - Meandro Soprador onde se sente uma forte corrente de ar
Figura 24 - Um dos poucos locais onde se consegue estar de pé
Figura 24 - Um dos poucos locais onde se consegue estar de pé
Figura 25 - Entrada para o Meandro Esquecido
Figura 25 - Entrada para o Meandro Esquecido
Fomos então avançando neste longo meandro, com zonas de grande beleza (ver Figura 26), terminando também com vários pontos de interrogação, para futuras explorações.
 
Falta apenas referir a zona da mítica Chaminé das Raízes, uma zona de contrastes. Para lá chegarmos é sempre bastante duro, seja por que caminho for. Na sua zona mais baixa ou inicial (ver Figura 27), temos acesso a um meandro que nos leva então à zona mais profunda da cavidade a -143 metros em relação à entrada do algar (ver Figura 28). Julgamos ser por aqui que se conseguirá a possível ligação à Gruta do Regatinho, se assim for humanamente possível.
Figura 26 - Pormenor das formações do Meandro Esquecido
Figura 26 - Pormenor das formações do Meandro Esquecido
Figura 27 - Base da Chaminé das Raízes
Figura 27 - Base da Chaminé das Raízes
Figura 28 - Zona mais profunda do algar
Figura 28 - Zona mais profunda do algar
Na zona mais alta da Chaminé das Raízes conseguimos ver uma das raízes que dão o nome a esta chaminé (ver Figura 29), a qual chega a cerca de 15 metros da superfície.
Figura 29 - Raíz visível na zona mais alta da Chaminé das Raízes
Figura 30 - Vista a partir da zona mais alta da Chaminé das Raízes
 

Geologia

Introdução

O Algar da Lomba situa-se próximo da localidade de Covão do Coelho, concelho de Alcanena, distrito de Santarém, no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros (PNSAC).

Enquadramento geológico e geomorfológico

O Algar da Lomba desenvolve-se no Maciço Calcário Estremenho (MCE), o qual se situa na Orla Mesocenozoica Ocidental, enquadrado de modo grosseiro pelas localidades de Leiria, Rio Maior, Torres Novas e Alcobaça, a Norte, Sul, Este e Oeste respetivamente.

O  Maciço Calcário Estremenho (MCE) corresponde grosseiramente a um bloco calcário elevado com uma área de cerca de 750Km2. A elevação do terreno deve-se a uma série de falhas e dobras, que além de responsáveis pela elevação do MCE, o dividem em várias áreas.

O MCE divide-se em três unidades morfoestruturais elevadas: o Planalto de São Mamede e Serra de Aire, o Planalto de Sto António, e a Serra dos Candeeiros. Estas unidades são separadas por três grandes depressões: os Polges de Minde, Mendiga e Alvados. As rochas aflorantes no MCE datam do Hetangiano ao Pliocénico (201 a 2,6 M.A.) mas, maioritariamente, são do Jurássico Médio e Superior (175 a 145 M.A.). É notório que o Jurássico Médio ocorre nas zonas sobre elevadas, ao passo que o Jurássico Superior ocupa, sobretudo, as regiões deprimidas atrás mencionadas (Carvalho, 2013).

 
Figura 31 - Carta Geológica de Portugal - Localização aproximada do MCE.
Figura 32 - Carta Geológica simplificada do MCE (Carvalho, 2013)
Figura 33 - Unidades morfoestruturais do MCE, com indicação da localização de algumas depressões cársicas. Note-se o Covão do Coelho sobranceiro ao Polge de Minde (adaptado de Fernandes Martin, 1949.s)

O Algar da Lomba desenvolve-se na formação de Calcários Micríticos da Serra de Aire do Jurássico Médio. A estrutura geológica local consiste num monoclinal, que corresponde a um dos flancos do doma da Serra de Aire. Segundo a Folha 27-A Torres Novas, da Carta Geológica de Portugal à escala 1/50000, as camadas têm uma direção aproximada NNW-SSE a inclinar 15º para Oeste, em direção ao polge. De referir ainda a existência de falhas de importância regional de direção grosseira NNW-SSE a NW-SE, que intersetam o Covão do Coelho e a falha que limita o bordo Norte do Polge de  Minde de direção aproximada NW-SE.

Figura 34 - Localização da entrada do Algar da Lomba e da Gruta do Regatinho, em relação às depressões do Polge de Minde e Covão do Coelho
Figura 35 - Planta do Algar da Lomba implantada em excerto (sem escala) da Folha -27A – Torres Novas, da Carta Geológica de Portugal à escala 1/50000

Enquadramento hidrogeológico

O Algar da Lomba faz a drenagem subterrânea da área do Covão do Coelho (Thomas, C., 1985).
 
O Algar da Lomba poderá estender-se para Norte e também para Sul, em direção à Gruta do Regatinho (Thomas, C., 1985 e Crispim et al 2007).
 
A Gruta do Regatinho é constituída por um conjunto de galerias fósseis e semi-ativas, com cerca de 1 km de extensão e 40 metros de profundidade, com orientação geral para sudeste   (Crispim, et al, 2007). O Algar da Lomba e a Gruta do Regatinho foram ligados por traçagem química, em episódio de elevada precipitação (Crispim, et al, 2007). O traçador viajou a uma velocidade média de 106m/h, o diâmetro das galerias por onde se faz a circulação (a que não se tem fisicamente acesso) foi estimado em cerca de 3 metros (Crispim, et al, 2007). A mesma traçagem não detetou ligação entre o Algar da Lomba e a Gruta da Nascente do Almonda (Crispim, et al, 2007). Ver  Figura 35 para localização da boca da Gruta do Regatinho.
 
Breve descrição da gruta
 
A entrada da gruta abre-se perto da depressão do Covão do Coelho. A cavidade inicia-se por um poço, com cerca de 78m de profundidade, o qual dá acesso a uma galeria que se desenvolve de um modo geral para NW, e que na sua zona terminal ramifica num conjunto de galerias labirínticas. Para efeitos deste artigo consideramos a gruta divida nas seguintes zonas: Poço de entrada, Galeria do Metro, Corrimão e Poços, e  Galerias dos Meandros, Marmitas  e estreitezas várias. A  Figura 36 apresenta a topografia da gruta com uma proposta de zonação da mesma.
 
Figura 36 - Planta do Algar da Lomba e proposta de zonação.

Poço de Entrada

O poço de entrada é controlado por fraturas e serviria como ponto de drenagem da água, através de  fraturas, para um coletor. A fratura ou fraturas foram alargadas devido à corrosão da água até permitir o acesso franco ao coletor. O poço  é um vadose shaft, um tipo de poço vertical a subvertical formado pela infiltração de água do epicarso em profundidade e sem relação genética direta com a galeria que intersecta. A base do poço está coberta por blocos, 
Figura 37 - Perfil do poço de entrada.
Figura 38 - Imagem do poço de entrada. Note-se as caneluras de corrosão, típicas dos vadose shaft.

Galeria do Metro

Esta é uma galeria de diâmetro métrico, de perfil descendente, cujo desenvolvimento é controlado pela atitude das camadas e fraturas.
Figura 39 - Perfil da Galeria do Metro. Note-se a pendente.

Corrimão e poços

Esta  zona é controlada por descontinuidade maior (Thomas, C. 1985).  Esta deverá ser uma falha (de atitude aproximada NW-SE/Subvertical), que deslocou o bloco Sul para cima e o bloco Norte para baixo, apresentando também deslocação horizontal, separando a gruta em dois blocos: o Oeste e o Este, com características distintas. A descontinuidade também serviu como uma linha preferencial de infiltração, com a água que circulava na Galeria do Metro a infiltrar-se total ou parcialmente na descontinuidade, formando um conjunto de poços.
Figura 40 - Hipótese de movimentação da falha da zona do Corrimão, em planta (movimentação horizontal).
Figura 41 - Hipótese de movimentação da falha da zona do Corrimão, em perfil (movimentação vertical).

Galeria dos Meandros, Marmitas e Estreitezas várias

As galerias situadas a Oeste da falha são de diâmetro de ordem de grandeza bastante inferior à da Galeria do Metro. As primeiras apresentam uma ordem de grandeza decimétrica enquanto a segunda é métrica, aproximando-se às vezes da dezena de metros. As galerias  formam um padrão anamastosomado.
 
As galerias a Oeste da falha são sobretudo controladas por superfícies de estratificação, embora localmente as fraturas desempenhem algum papel. O principal fornecimento de água para esta área da gruta deverá ser infiltração a partir da superfície.
Figura 42 - Perfil da zona da Galeria dos Meandros, Marmitas e estreitezas.
Figura 43 - Planta da zona da Galeria dos Meandros, Marmitas e estreitezas.

Ligação Algar da Lomba – Algar da Esteveira

O Algar da Esteveira apresenta uma morfologia muito semelhante à das Galerias dos Meandros  e Marmitas. O Algar da Esteveira pode corresponder a uma zona do Algar da Lomba, abandonada devido a uma descida do nível de base, ou a um estádio mais primitivo da evolução da rede de drenagem da área em estudo, que não chegou a coalescer com grutas vizinhas.
 
A zona dos meandros, encontra-se muito próxima, ou mesmo sob o do Algar da Esteveira.  Veja-se a proximidade entre as duas grutas na  Figura 44. A planta do Algar da Esteveira foi vetorizada com base na topografia de Martins, 1985. A diferença altimétrica entre a duas cavidades pode porém ser significativa.
 
Figura 44 - Plantas da zona terminal do Algar da Lomba e do Algar da Esteveira, em imagem de satélite.

Conclusões

Génese da cavidade

O Algar da Lomba faz a drenagem subterrânea da área do Covão do Coelho (Thomas, C., 1985) em direção ao Polge de Minde, tendo sido feita a ligação entre o Algar da Lomba e a Gruta do Regatinho (uma das nascentes temporárias do Polge de Minde) por traçagem química, por Crispim, J.et al,2007.
 
A cavidade tem uma origem freática, ou seja, formou-se abaixo do que seria então o nível de água subterrânea. Posteriormente, com a descida deste nível de água, a gruta passa para a zona vadosa (acima do nível de água subterrânea), onde atualmente se encontra. Perto da área do “Corrimão”, sensivelmente a meio da gruta, um conjunto de sumidouros leva a água que circula na gruta para zonas mais profundas que ainda não foi possível alcançar. É nessa zona que uma falha atravessa perpendicularmente a galeria. Esta falha, traduzida na gruta por um conjunto de poços e chaminés, separa duas zonas morfologicamente distintas da gruta: a zona Este, caracterizada por uma galerias de maior diâmetro quase sem ramificações, e a zona Oeste com padrão labiríntico e galerias de diâmetro bastante mais reduzido. A falha, ao mover-se, terá separado estas duas zonas da grutas que, nunca deixando de estar ligadas, apresentam desenvolvimentos distintos.
 

Possíveis continuações

O Algar da Lomba tem um potencial considerável de continuação. Uma das continuações mais óbvias é a ligação física à Gruta do Regatinho. Porém, dada a dificuldade da progressão da zona terminal do Algar da Lomba, parece-nos mais acessível uma ligação a partir da Gruta do Regatinho. Outras possíveis continuações são: i) para Este através da galeria a que o poço de entrada dá acesso, apesar dessa zona estar protegida por blocos de abatimento; ii ) para Oeste através do acesso a zonas mais profundas da gruta.
 
E assim terminámos a 1ª fase dos trabalhos, a exploração, topografia e análise geológica e geomorfológica deste grande algar onde identificámos diversos pontos de interrogação. A nosso ver, para continuação deste trabalho, ou seja, para a 2ª fase, o ideal e havendo vontade para tal será abrir na superfície uma ligação na Chaminé das Raízes. Todos teríamos a ganhar porque a cavidade ainda tem muito para nos contar. Ficaríamos com uma travessia, ou seja, uma gruta com uma entrada e uma saída.
 

Agradecimentos

Os dois artigos aqui apresentados (topografia/exploração e geologia da 1ª fase dos Projeto Algar da Lomba) apenas foram possíveis de realizar graças à colaboração de todos os que participaram nos trabalhos do projeto (quer dentro quer fora da gruta). A lista é demasiado extensa para colocar aqui, mas todos os participantes estão referidos na topografia da gruta. Porém devemos salientar algumas pessoas: José Ribeiro, a força motriz, por detrás do projeto do Algar da Lomba, organizou, equipou, topografou e fez a arte final da topografia; o Sr. “Abilinho” que simpaticamente forneceu as acomodações e sempre nos recebeu de braços abertos, Dayara Jesus pelos vídeos, Teresa Cardoso e Dina Dias pelos levantamentos, a ajuda da equipa do CEAE, nomeadamente ao Hélio Frade, ao Marco Messias e à Dina Gentil que nos ajudaram bastante, principalmente nas zonas mais distantes do algar, José Mário Ventura, Marco Matias, Filipe Castro, Hélio Frade  e Joana Capitani, pelas fotos.
 

Referências  bibliográficas

  • Thomas, C. 1985 Grottes et algares du Portugal. Lisboa : Gráf. Eurograf. – 227p.
  • Carvalho, J. 2013, Tectónica e caraterização da fraturação do Maciço Calcário Estremenho, Bacia Lusitaniana. Contributo para a prospeção de rochas ornamentais e ordenamento da atividade extrativa. Universidade de Lisboa, Lisboa.
  • Crispim, J.et al,2007; Património Geológico, arqueológico e mineiro em regiões cársicas. Actas do simpósio Ibero-americano, Batalha.
  • Manupella, G., Telles Antunes, M., Costa Almeida, C.A., Azerêdo, A.C., Barbosa, B., Cardoso, J.L., Crispim, J.A., Duarte, L.V., Henriques, M.H., Martins, L.T., Ramalho, M.M.; Santos, V.F.; Terrinha. P.; (2000). Carta Geológica de Portugal – Vila Nova de Ourém, Folha 27-A, à escala 1:50.000, e Nota Explicativa, Instituto Geológico e Mineiro, Lisboa.
  • Martins, Alfredo Fernandes, 1949.  – Maciço calcário estremenho: Contribuição para um estudo de geografia física. Coimbra.
  • Martins, Olímpio, 1985, Algar da Esteveira, Algarocho nº 8,Boletim interno da Sociedade Portuguesa de Espeleologia, Lisboa.