Algares do Cabeço dos Alecrineiros - Parte XIII​
11 de Novembro de 2018

Ribeiro, José 1,2; Lopes, Samuel 1,4; Rodrigues, Paulo 1,2,3

  1. Grupo de Espeleologia e Montanhismo, Rua Maria Veleda, 6, 7ª Esq, 2650-186, Amadora, Portugal
  2. Núcleo dos Amigos das Lapas Grutas e Algares 
  3. Comissão Científica da Federação Portuguesa de Espeleologia, Estrada Calhariz de Benfica, 187,  1500-124 Lisboa
  4. Wind-CAM – Centro de Atividades de Montanha, Rua Eduardo Mondelane, lj44, 2835-116 Baixa da Banheira

 

Introdução

Regressámos ao Algar do Bafo, Bafinho, Bafão onde explorámos o poço Gémeo e desequipámos o algar por questões de segurança, mas vamos lá voltar, ficaram muitas pontas soltas por verificar e certamente vai crescer.

 
Publicamos também mais 3 algares pois o trabalho avança consoante a disponibilidade da malta e a constituição das equipas. A saber, Algar de Boca Larga V, Algar do Bruno, e Algar Spit Fou.
Algar de Boca Larga V
Figura 1 – Entrada do Algar de Boca Larga V (Foto: Samuel Lopes – GEM/WIND)
Fomos em busca deste algar, graças à partilha do trabalho realizado pelos espeleólogos do SSAC, aquando da sua expedição a Portugal no ano de 2005. Percebemos pela topografia tipo croqui, muito bem realizada na altura, que o algar tinha interesse e carecia de uma topografia e estudo mais elaborado.
Descrição:
A boca do algar tem aproximadamente 2m de comprimento e 1m de largo, aparentando ser uma “fenda” no sentido O-E. Segue-se um poço de 6m do qual se acede a um pequeno patamar com argila e calhaus de várias dimensões.
No sentido SSE, novo poço de 2m com algumas formas de reconstrução. Na base, uma rampa com calhaus de várias dimensões seguindo-se uma sala tipo “corredor”. A base de argila tem algumas pedras e inclinação no sentido SE, e o tecto nesta zona chega aos 6m de altura.  Aqui, na zona mais a SE, novo poço de 8m que teve de ser estabilizado pois o seu inicio em rampa tinha bastante pedra e argila solta. Na base do poço encontra-se uma sala de boas dimensões com chão irregular mas de inclinação no sentido NE, composto por muita argila e blocos de várias dimensões. O tecto nesta zona chega a estar nos 11m.
Figura 2 – Topografia realizada em exploração pelo SSAC, do relatório de 2005, onde descrevem o trabalho realizado na cavidade.
No sentido SE encontramos uma parede com grandes blocos onde após pequena escalada temos acesso a um pequeno tramo, sempre no sentido ascendente e na direção SE, que nos permite chegar a uma zona com boas concreções parietais, terminando aí este tramo.
Regressando à base do poço no sentido NNO, vemos uma pequena fissura que se prolonga por um par de metros, terminando logo de seguida. Já no sentido NE o tecto desce abruptamente em “degraus” se assim lhe podemos chamar. Aqui temos acesso a um poço de 9m, sendo a sua base composta por blocos de várias dimensões e argilas. Na zona mais a NE, temos uma abertura no tecto que liga a outro tramo da cavidade.
Regressando à cabeceira do P9, no sentido NNO, encontramos um novo tramo ao qual acedemos através de um pequeno patamar do lado direito do sentido de progressão. Ai, blocos de grandes dimensões que no sentido ascendente nos levam a pequena sala de algumas concreções parietais, sendo a sua base irregular e composta por calhaus de várias dimensões, terminando ai a progressão.
Para seguirmos a progressão no algar regressámos à cabeceira do P9, ultrapassando o pequeno patamar do lado direito no sentido de progressão. Pequena passagem no sentido SE, aqui tudo é muito irregular e “chato”, a frente encontra-se no sentido NE e a abertura observada anteriormente no P9 na mesma direção.
Segue-se um pequeno patamar onde vislumbramos o poço de 18m. Aqui o algar volta a crescer, cabeceira de boas dimensões onde no sentido NO se observa uma pequena abertura na parede que liga à zona anteriormente descrita do algar. Já no sentido SE, vê-se uma abertura na parede de novo tramo, dando a perceber que ai volta a subir, e observa-se formas de reconstrução.
Descendo o poço, a cerca de 5m da cabeceira, encontramos um grande bloco entalado. “Contornando” o obstáculo, descemos à base do poço, sendo esta muito mais pequena que a cabeceira, composta por calhaus de várias dimensões e com inclinação no sentido O. Aí vemos uma abertura na parede que nos dá acesso a um novo poço de 8m. À frente, no sentido SO, outra abertura que nos dá acesso a um pequeno poço de 2m, com fundo em argila. No tecto observa-se uma chaminé com 6m, mas que fecha no final.
Descendo o P8, com a sua base de calhaus de várias dimensões que desce em rampa no sentido SSE, temos de seguida um pequeno ressalto de 3m, continuando a descer novamente no mesmo sentido. Mais à frente segue-se uma viragem súbita a OSO, sempre em rampa mas não tão acentuada, onde acedemos a uma passagem “apertadinha” após desobstrução da malta do SSAC. Aqui sente-se já uma corrente de ar forte, e ultrapassando a passagem damos com um novo poço de 2m. Para cima observamos uma chaminé que fecha à altura de 5m. Na base, com muito calhau e argila, encontramos uma nova desobstrução da malta do SSAC. Dessa desobstrução resultou um poço de 4m, de cabeceira muito apertada, dando acesso a um pequeno oco de aproximadamente 2m de diâmetro. Aí, no sentido S, numa pequena “fresta” de onde provém a corrente de ar forte e contínua, nota-se o inicio de outra desobstrução pela malta do SSAC, terminando aí por agora a descrição do algar.
Geologia:
A gruta aparenta ter um controlo estrutural, de um modo geral, por duas famílias de fraturas de direção grosseira NW-SE e NE-SW, ambas com inclinação subvertical. As camadas regionalmente têm direção aproximada NW-SE e inclinação suave para Sul.
 
A gruta desenvolve-se em calcários da formação de Calcários Micríticos da Serra de Aire, datada do Batoniano, do Jurássico Médio. A gruta aparenta tratar-se de um “vadose shaft” de acordo com a definição de Baron, 2003, sendo estas grutas com desenvolvimento essencialmente vertical que conduzem a água do epicarso para as zonas mais profundas do carso.
Presente:
Algar interessante e muito técnico, com zonas de progressão muito diferentes. Temos de enaltecer o trabalho efetuado pela malta do Société Spéléo-Archéologique de Caussade (SSAC), que em modo de exploração divulgou e partilhou um belo trabalho que muito útil tem sido para o desenvolvimento do nosso projeto.
 
Quanto ao algar, destaca-se de facto a forte corrente de ar sentida na parte final do algar, que independentemente dos dias em que por lá andámos, sendo mais frios ou quentes no exterior, a corrente de ar era sempre descendente e forte.
 
Continua em exploração e certamente faremos uma nova campanha para vermos o que se segue.
Figura 3a – Planta do Algar de Boca Larga V
Figura 3b – Perfil desdobrado do Algar de Boca Larga V
Figura 3c – Ficha de equipagem do Algar de Boca Larga V
Figura 3c – Ficha de equipagem do Algar de Boca Larga V
Fotos do Algar de Boca Larga V por Samuel Lopes (GEM/WIND)
Algar do Bruno
Este pequeno algar já por nós identificado aquando da exploração do algar do Curral das Éguas, ficou na altura apenas explorado e com a coordenada registada. Aproveitámos uma recente atividade para o topografar e partilhar.
Figura 4 – Entrada do Algar do Bruno (Foto: José Ribeiro – GEM)
Descrição:
Num campo de lapiás de boa dimensão, nota-se numa zona de abatimento, no canto mais a E desta, uma abertura com cerca de 30×30 cm. Acede-se por essa abertura a este pequeno algar, que apresenta um destrepe de 2m.
O chão é em rampa de argila e cascalho, e após um pequeno patamar chegamos á zona maior do algar, sempre no sentido E. Aqui o tecto está em média a 4m e o chão é de muitos blocos de várias dimensões e argila.
No sentido SSO há uma descontinuidade estreita e alta com pequena inclinação no mesmo sentido. O chão é de argila, estando o tecto praticamente à mesma altura. Seguindo esta pequena descontinuidade chega-se a uma pequena sala com cerca de 1x1m, com fundo de argila e tecto à mesma distância, terminando aí o algar.
Geologia: A gruta tem uma constituição muito simples e aparenta ter um controlo estrutural, de um modo geral, por duas famílias de fraturas de direção grosseira NE-SW e E-W, ambas com inclinação subvertical. As camadas regionalmente têm direção aproximada NW-SE e inclinação suave para Sul.
A gruta desenvolve-se em calcários da formação de Calcários Micríticos da Serra de Aire, datada do Batoniano, do Jurássico Médio. A gruta aparenta tratar-se de um “vadose shaft” de acordo com a definição de Baron, 2003, sendo estas grutas com desenvolvimento essencialmente vertical que conduzem água do epicarso para as zonas mais profundas do carso.
Presente:
Bom, não há muito mais a dizer a não ser que os pequenos algares também são importantes, e que este também fica aqui registado.
Figura 5a – Planta do Algar do Bruno
Figura 5b – Perfil desdobrado do Algar do Bruno
Fotos do Algar do Bruno por José Ribeiro (GEM)
Algar Spit Fou
Estava um daqueles dias em que se podia andar no monte, nem chuva nem sol. Aproveitámos a exploração de um algar não muito longe e fomos “tratar” deste, já identificado anteriormente e encontrado graças à partilha da sua localização no relatório da expedição de 2005 do SSAC, que sempre partilharam as suas explorações e certamente muitas amizades criaram. 
Figura 6 – Entrada do Algar Spit Fou (Foto: José Ribeiro – GEM)
Descrição:
O algar situado num campo de lapiás extenso e na altura coberto de densa florestação. A sua entrada é uma pequena descontinuidade à superfície no sentido O-E com cerca de 2m de comprimento e no seu máximo 0,5m de largura.
Um bloco ali situado impede uma entrada “livre” para um poço de 8m, apertado de inicio mas que alarga à medida que se desce. A base mais larga com sensivelmente 2x2m está coberta de argila e pequenos calhaus.
No sentido SE há uma pequena fenda que termina logo de seguida. Já no sentido O temos uma abertura muito estreita cheia de argila que dá passagem a um novo poço de 7m. Aí o tecto está 6m mais acima com paredes praticamente lisas.
Para baixo até à sua base vemos um pequeno patamar que se alcança em destrepe e que, também em destrepe, nos dá acesso à base coberta de argila e algumas pedras. Nota-se nas paredes junto à base a formação de “dente de cão”, fruto da acumulação de água.
 
Geologia:
A gruta aparenta ter um controlo estrutural, de um modo geral, por uma família de fraturas de direção grosseira E-W, com inclinação subvertical. As camadas regionalmente têm direção aproximada NW-SE e inclinação suave para Sul.
A gruta desenvolve-se em calcários da formação de Calcários Micríticos da Serra de Aire, datada do Batoniano, do Jurássico Médio. A gruta aparenta tratar-se de um “vadose shaft” de acordo com a definição de Baron, 2003, sendo estas grutas com desenvolvimento essencialmente vertical que conduzem a água do epicarso para as zonas mais profundas do carso.
Presente:
Apesar de pequeno, este algar deu-nos “água pela barba”, sempre apertado e com muita argila. Sem máquina fotográfica lá nos desenrascámos com o GPS, e assim ficou mais um algar explorado e por nós agora partilhado.
 
Figura 7a – Planta do Algar Spit Fou
Figura 7b – Perfil desdobrado do Algar Spit Fou
Figura 7c – Ficha de equipagem do Algar Spit Fou
Fotos do Algar Spit Fou por José Ribeiro (GEM)
Algar do Bafo, Bafinho, Bafão
Figura 8 – Zona a que se desce ao ponto mais fundo do algar (Foto: Samuel Lopes – GEM/WIND)
Amigos, entendemos por razões de segurança desequipar este algar, pois já estava equipado há mais de 2 anos, por isso fomos retirar o equipamento que lá se encontrava.
Aproveitámos também para ir à zona mais funda do algar passando por um dos poços gémeos que ainda não tinha sido descido, mas onde já tínhamos estado na cabeceira e base.
Foi equipado com o método Multi-Mont e descido. Realmente é muito bonito com aquelas paredes de calcário liso. Verificámos também no sentido NO, sensivelmente a meio do poço, duas pequenas reentrâncias que aparentemente ligam uma à outra e voltam a direcionar-se para o poço.
Mais importante foi que nos -223m, onde já tínhamos estado anteriormente, nesse dia sentiu-se uma pequena aragem fresca. Após insistirmos em revirar calhaus deslumbrámos uma pequena fenda “apertadinha” que nos deu acesso a dois pequenos ocos que levaram o algar a uma profundidade de -230m, terminando numa pequena linha de água que se infiltra numa fenda de 1m de alto e talvez 4cm de largo. Portanto um típico algar “vadose shaft”.
Infelizmente ficámos sem máquina fotográfica para fazer o registo, paciência.
O algar ainda tem muito para nos contar e muita “ponta solta” para verificar, começando logo nos -30m. Certamente mais haverá, para a frente retomaremos os trabalhos com nova campanha.
Partilhamos agora as topografias e ficha de equipagem, atualizadas.
Figura 9a – Planta do Algar do Bafo, Bafinho, Bafão
Figura 9b – Perfil desdobrado do Algar do Bafo, Bafinho, Bafão
Figura 9c – Pormenor da sobreposição de poços do Algar do Bafo, Bafinho, Bafão
Figura 9d – Ficha de equipagem do Algar do Bafo, Bafinho, Bafão
 
E já está, venham as próximas!!!