Artigo_Sumidouros Minde
Sumidouros do Polje de Minde
26 de Dezembro de 2015

Introdução

Até ao momento conhecem-se no polje de Minde cerca de uma trintena de sumidouros. Os sumidouros distribuem-se ao longo das linhas de água temporárias que sulcam o fundo do polje, das quais se destaca a ribeira da Pena, e no fundo de algumas dolinas. Os sumidouros encontram-se sobretudo ao longo de uma faixa central do polje, com uma maior concentração na metade Este do polje. Apenas os sumidouros da Pousia do Parramal e do algar do João da Ruiva se situam no extremo SE do polje, próximos da Costa de Minde.
 
A grande maioria dos sumidouros encontra-se obstruída à boca, exigindo trabalhos de desobstrução pesados para a sua exploração. Dos trabalhos já realizados, os sumidouros que dão um acesso franco a grutas são pouco comuns, e o seu acesso deve-se em grande parte a trabalhos de desobstrução realizados no passado. Este facto associado à extensão reduzida das grutas até agora exploradas (algumas dezenas de metros), exiguidade dos espaços e necessidade de realizar desobstruções mesmo no interior da gruta, tornam o projecto trabalhoso e algo penoso. O potencial das grutas é porém elevado. Os sumidouros drenam uma grande massa de água que quase todos os anos inunda o polje de Minde e, através de traçagens (Crispim, 1995), foi possível ligar alguns sumidouros às nascentes do Almonda, Vila Moreira e Alviela, deixando antever uma possível ligação entre sistemas distintos do Maciço Calcário Estremenho (MCE). É nosso objetivo, dentro das nossas limitações, proceder ao levantamento sistemático dos sumidouros e topografia dos mesmos, quando possível.
Figura 1 – Localização dos sumidouros do polje de Minde em fotografia de satélite
Resenha histórica
Da pesquisa feita, que não se pretende seja exaustiva, a referência mais antiga e quase única, que foi encontrado aos sumidouros data de 1977, no Algarocho 6-7, da Sociedade Portuguesa de Espeleologia (SPE). O boletim refere os trabalhos realizados em alguns sumidouros, apresentando um esboço topográfico da Pousia dos Algares, um esboço de memória do Algar do Zé Lenha, descreve as duas cavidades atrás referidas e ainda uma outra no sumidouro da Barroca da Abelha e contem ainda algumas notas sobre a geologia dos sumidouros.
De acordo com comunicação pessoal de Fernando Pires ainda nos anos 90, a SPE, em conjunto com a já extinta Associação Portuguesa de Investigação Espeleológica (APIE), realizou ainda alguns trabalhos nos sumidouros.  
A quem possa completar esta resenha agradece-se o seu contributo. 

Trabalhos realizados

Os trabalhos iniciaram-se em 2012 com o levantamento de campo dos sumidouros, tendo-se os trabalhos de levantamento sido retomados e concluídos no Verão de 2015 (se é que este trabalho alguma vez se pode considerar concluído). Ainda no Verão de 2015 foram explorados os Algar do Zé Lenha, Algarões e Pousia dos Algares.
 
A 21 e 22 de Novembro foram realizados trabalhos de topografia no Algar do Zé Lenha e Pousia do Algares, bem como levantamento de mais alguns sumidouros e trabalhos de desobstrução.
 

Sumidouros topografados

O Algar do Zé Lenha abre-se numa dolina com uma largura máxima de cerca de 20m, sendo visível no extremo Este a entrada para a gruta. De acordo com Crispim, 1978, este é um dos últimos sumidouros da ribeira da Pena. A ribeira ao chegar ao sumidouro apresenta um entalhe de cerca de 3m de profundidade, em relação ao nível médio do fundo do polje, e forma um vale cego, com as paredes muradas e o fundo coberto de blocos. 
Figura 2 – Boca do Algar do Zé Lenha (Foto: Alexandre Leal)
A Pousia dos Algares refere-se a uma zona plana onde abundam buracos, semelhantes a tocas, abertos nos sedimentos de cobertura e que depois penetram nos calcários subjacentes. Estes buracos de uma forma geral têm uma continuação muito reduzida ou são mesmo impenetráveis. Um deles apresenta porém desenvolvimento considerável e foi este que foi topografado.
 
Os dois sumidouros topografados apresentam vestígios de desobstruções com meios pesados.
 
Espeleometria

Algar do Zé Lenha

Desenvolvimento: 84m, Desnível:19m. 

Figura 3a – Planta do Algar do Zé Lenha
Figura 3a – Planta do Algar do Zé Lenha
Figura 3b – Perfil do Algar do Zé Lenha
Figura 4a – Planta da Pousia dos Algares
Figura 4a – Planta da Pousia dos Algares
Figura 4b – Perfil da Pousia dos Algares
Algumas notas de geologia
Os sumidouros desenvolvem-se em calcários do Jurássico Superior da formação de Cabaços e Montejunto. As bocas de muitos sumidouros abrem-se ao longo das superfícies de estratificação, indicando um controlo das cavidades por estas descontinuidades. De acordo com Crispim, 1978 quer no Algar do Zé Lenha, quer na Pousia dos Algares as diáclases apresentam também um papel importante no controlo estrutural das cavidades.
A superfície do fundo do polje de Minde tem uma cota que ronda os 200m, as bocas dos dois sumidouros, estão também a cotas próximas deste valor.
De acordo com Crispim, 1995, o Algar do Zé Lenha terá um caudal máximo da ordem de grandeza de 100 l/s, apesar do autor advertir para a dificuldade de calculo destes valores.
Segundo Crispim, 1995, em 1989, uma traçagem provou que pelo menos parte da água que se some no Algar do Zé Lenha surge na nascente de Vila Moreira e na nascente do Almonda.
Ainda de acordo com Crispim, 1995, uma traçagem realizada em 1986 com injeção de traçador num outro sumidouro, a Pousia do Parramal, demonstraram a ligação entre este sumidouro e as nascentes de Vila Moreira e do Alviela.
Figura 5 – Localização de alguns sumidouros num extrato da folha 27-A da Carta Geológica de Portugal à escala 1/50000


Participantes

As atividades do projeto sumidouros contaram com a participação dos seguintes espeleólogos nos trabalhos de campo por ordem alfabética: Alexandra Leal, Alexandre Leal, Andreia Monteiro, André Reis, Hélio Frade, José Ribeiro, Marco Messias, Paulo Rodrigues, Pedro Aguiar, Rodrigo Leal.
 
Uma palavra de agradecimento a Pedro Robalo o homem do cadastro e dos SIG.
 
Os espeleólogos participantes pertencem às seguintes associações, por ordem alfabética: CEAE-LPN – Centro de Estudos a Atividades Especiais da Liga para a Protecção da Natureza, e GEM – Grupo de Espeleologia e Montanhismo.
 

Referências  bibliográficas

  • Crispim, J.A. (1995). Dinâmica Cársica e Implicações Ambientais nas Depressões de Alvados e Minde. Tese de Doutoramento em Geologia, especialidade de Geologia do Ambiente. Departamento de Geologia. Faculdade de Ciências, Universidade de Lisboa.
  • Crispim, J.A. e Vitor Leal, 1978, Regatinho 77, Algarocho 6-7, 1977/78, Boletim Interno da Sociedade Portuguesa de Espeleologia, Lisboa. 
  • Manupella, G., Telles Antunes, M., Costa Almeida, C.A., Azerêdo, A.C., Barbosa, B., Cardoso, J.L., Crispim, J.A., Duarte, L.V., Henriques, M.H.,  Martins, L.T.,  Ramalho, M.M.; Santos, V.F.; Terrinha. P.;  (2000). Carta Geológica de Portugal – Vila Nova de Ourém, Folha 27-A, á escala 1:50000, e Nota Explicativa, Instituto Geológico e Mineiro, Lisboa.