Artigo_Alecrineiros11
Algares do Cabeço dos Alecrineiros - Parte XI
4 de Março de 2018

Ribeiro, José 1,2; Lopes, Samuel 1,4; Rodrigues, Paulo 1,2,3

  1. Grupo de Espeleologia e Montanhismo, Rua Maria Veleda, 6, 7ª Esq, 2650-186, Amadora, Portugal
  2. Núcleo dos Amigos das Lapas Grutas e Algares 
  3. Comissão Científica da Federação Portuguesa de Espeleologia, Estrada Calhariz de Benfica, 187,  1500-124 Lisboa
  4. Wind-CAM – Centro de Atividades de Montanha, Rua Eduardo Mondelane, lj44, 2835-116 Baixa da Banheira

 
Introdução
Eis que de novo voltamos a subir em direção ao Cabeço dos Alecrineiros, seguindo um percurso pedestre ali existente. 
Fruto de várias saídas de prospeção, exploração e todas aquelas coisas que fazemos em espeleologia, conhecemos mais uns quantos algares.
A saber, apresentamos os Algares: Fenda do Caminho, Algar Encalhoado, Algar da Pedra Deitada, e Algar do Risco.
Adverte-se também e mais uma vez que, para sua proteção e da própria cavidade, o espeleólogo tem de ter obrigatoriamente formação!!!
Figura 1 - Localização dos algares tendo como referẽncia o marco geodésico dos Alecrineiros.
Fenda do Caminho
Lá fomos nós para mais uma aventura a subirmos um percurso pedestre que nos leva para a zona do cabeço, e ali estava o buraco, certamente já visto por muitos, identificado no Cadastro de São Bento como Afe, mas não constava no Cadastro Nacional de Cavidades. Bom, ficou resolvido.
Figura 2 – Fenda do Caminho (Foto: José Ribeiro – GEM/WIND)
Descrição:
O algar abre-se à superfície numa fenda com cerca de 1,5m de comprimento e aproximadamente 0,5m de largura. Segue-se um pequeno ressalto devido a um bloco de boas dimensões que ali ficou colocado. Por debaixo vemos tudo colmatado com blocos de diversas dimensões.
No sentido O, prolonga-se por mais um par de metros, alcançando a profundidade de 3m, aí também bloqueado por calhaus de diversas dimensões.
Geologia:
O algar da Fenda do Caminho é controlado estruturalmente por uma fratura de atitude aproximada N80W/Vertical.
Deverá tratar-se de um “vadose shaft”, conforme descrito por Baron 2003, estas são grutas de desenvolvimento essencialmente vertical que transportam as água do epicarso para as zonas mais profundas do carso. A gruta desenvolve-se segundo Manuppela et al 2000, na formação de Calcários Bioclásticos do Codaçal datada do Jurássico Médio.
Presente:
Embora pequeno também deve ser cadastrado, e assim aqui fica topografado, cadastrado e partilhado.​
Figura 3a – Planta da Fenda do Caminho
Figura 3b – Perfil desdobrado da Fenda do Caminho
Figura 3b – Perfil desdobrado da Fenda do Caminho
Fotos do Fenda do Caminho por José Ribeiro (GEM/WIND)
Algar Encalhoado
Este algar já identificado no Cadastro de São Bento como 466, foi explorado numa saída de campo do NEL com participação de espeleólogos do ARCM e GEM/NALGA, em que se procedeu à sua desobstrução à superfície e exploração, ficando o Paulo Rodrigues encarregue da sua topografia. Entretanto o tempo passou e a topografia “foi-se”.
Mais tarde, o algar voltou a ser tapado para que não caísse ali nenhum animal. Ao subirmos a ladeira, desviámos dois calhaus e tratámos do assunto.
Figura 4 – Algar Encalhoado (Foto: Paulo Rodrigues – GEM)
Descrição:
Encostado a um chouso, o algar abre-se à superfície. A sua boca, completamente tapada por blocos de várias dimensões, tem cerca de 4m de comprimento por 1,5m de largura.
Acede-se ao poço de 22m desviando dois pequenos blocos na zona mais a Sul. Note-se que o poço se desenvolve numa descontinuidade no sentido NO-SE e tem as suas paredes muito forradas com formas de reconstrução parietais.
No sentido SE tem uma pequena plataforma, e mais abaixo, algumas reentrâncias que ligam à sua base. Esta base tem uma inclinação no sentido NO, sendo composta por blocos e argila. 
No final da rampa vemos uma pequena fenda com cerca de 1m de altura por 0,5m de largura por onde se chega a uma pequena sala, depois de se descer um ressalto de 3m. A pequena sala tem muitas formas de reconstrução, sendo o fundo composto por blocos e argilas, terminando ai o algar.
Geologia:
O algar  é controlado estruturalmente por uma fratura de atitude aproximada N70W/Vertical. As camadas à boca estão subhorizontais. Deverá tratar-se de um “vadose shaft”, conforme descrito por Baron 2003, ou seja grutas de desenvolvimento essencialmente vertical que transportam as água do epicarso para as zonas mais profundas do carso. A gruta desenvolve-se segundo Manuppela et al 2000, na formação de Calcários Bioclásticos do Codaçal datada do Jurássico Médio.
Presente:
E pronto, voltámos a recolocar os blocos e seguimos em frente, pois ainda tínhamos muito sol pela frente.​​
Figura 5a – Planta do Algar Encalhoado
Figura 5b – Perfil desdobrado do Algar Encalhoado
Figura 5c – Ficha de equipagem do Algar Encalhoado
Fotos do Algar Encalhoado por José Ribeiro (GEM/WIND) e Paulo Rodrigues (GEM)
Algar da Pedra Deitada
Já na zona do marco geodésico virámos para Norte, onde já tantas vezes andámos e encontrámos diversos algares. Num grande campo de lapiás demos com mais este, identificado com o numero 425 a azul. O nome que lhe atribuímos deve-se ao calhau que tem por cima da sua pequena boca. Fica cadastrado e partilhado, siga.
Figura 6 – Algar da Pedra Deitada (Foto: Samuel Lopes – GEM/WIND)
Descrição:
O algar situa-se num vasto campo de lapiáz com fendas fundas. Tem um bloco por cima da sua entrada, que não tem mais de 0,5m de diâmetro. Segue-se um poço de 3m, com a sua base em rampa, com inclinação no sentido E-O, apresentando alguns blocos e argila.
No mesmo sentido desenvolve-se este pequeno algar. Já no final da rampa olha-se para o tecto e verificam-se pequenas fissuras por onde passa a claridade do dia. 
O algar termina num pequeno oco de altura muito reduzida.
Geologia:
O algar aparenta ser controlado estruturalmente por uma fratura de atitude aproximada NW-SE/Vertical. Deverá tratar-se de um “vadose shaft”, conforme descrito por Baron 2003, estas são grutas de desenvolvimento essencialmente vertical que transportam as água do epicarso para as zonas mais profundas do carso. A gruta desenvolve-se segundo Manuppela et al 2000, na formação de Calcários Mícriticos da Serra de Aire datada do Jurássico Médio.
Presente:
E já está, certamente identificado por muitos, mas carecia de ser registado. Pelo menos para que os trabalhos não se repitam. Como é possível que não estivesse no Cadastro Nacional (CNC)?
Bom, agora já está. E certamente muitos que por aqui se encontram vão ser identificados, cadastrados e partilhados. Abram-se as mentes
Figura 7a – Planta da Pedra Deitada
Figura 7b – Perfil desdobrado da Pedra Deitada
Figura 7c – Ficha de equipagem da Pedra Deitada
Fotos do Algar da Pedra Deitada por Samuel Lopes (GEM/WIND)
Algar do Risco
Já no regresso, demos com este algar ali encostado a um chouso. O nome deve-se à bancada de lado que está tão direita que parece um risco. Encontra-se registado no grupo de São Bento com o código B109.
Figura 8 – Algar do Risco (Foto: José Ribeiro – GEM/WIND)
Descrição:
O algar abre-se à superfície com uma boca de aproximadamente 0,5m. Tem um bloco entalado no lado mais a S, havendo desse lado uma outra abertura mas mais estreita.
Segue-se um poço de 4m, com a sua base composta por diversos blocos e argila, e com inclinação no sentido S, por onde se desenvolve este pequeno algar.
Tem um pequeno espaço com cerca de 3m de comprimento, e no seu inicio 2m de largura, afunilando de seguida.
Tem algumas formas de reconstrução, inclusive uma estalactite de boas dimensões.
Geologia:
O algar aparenta ser controlado estruturalmente por uma família de fraturas de atitude aproximada N-S/Vertical. Deverá tratar-se de um “vadose shaft”, conforme descrito por Baron 2003. Estas são grutas de desenvolvimento essencialmente vertical que transportam as água do epicarso para as zonas mais profundas do carso. A gruta desenvolve-se segundo Manuppela et al 2000, na formação de Calcários Mícriticos da Serra de Aire datada do Jurássico Médio.
Presente:
Tem sido um misto de ansiedade e esperança, cada vez que identificamos aqui um algar. É que ali mais a Oeste, olhamos e vemos aquela grande Dolina… aqui “cheira” a gruta que se farta. Ainda não foi desta mas nós vamos lá chegar, vamos conseguir.
E aqui fica mais um registado, partilhado e cadastrado.
Figura 9a – Planta do Algar do Risco
Figura 9b – Perfil desdobrado do Algar do Risco
Figura 9c – Ficha de equipagem do Algar do Risco
Figura 9c – Ficha de equipagem do Algar do Risco
Fotos do Algar do Risco por Samuel Lopes (GEM/WIND) e José Ribeiro (GEM/WIND)
E já está, mais uma publicação. A obra avança e certamente que muitas novidades traremos nas próximas publicações.
Abraço e até à próxima!!!!