Ribeiro, José 1,2; Lopes, Samuel 1,4; Rodrigues, Paulo 1,2,3
Grupo de Espeleologia e Montanhismo, Rua Maria Veleda, 6, 7ª Esq, 2650-186, Amadora, Portugal
Núcleo dos Amigos das Lapas Grutas e Algares
Comissão Científica da Federação Portuguesa de Espeleologia
Wind-CAM – Centro de Atividades de Montanha, Rua Eduardo Mondelane, lj44, 2835-116 Baixa da Banheira
Introdução
Ora cá estamos nós de regresso à zona dos algares “Penas Traseiras”, de uma forma ou de outra estamos a encontrá-los. Eles ali estão há milhares ou mesmo milhões de anos, “à nossa espera”!!!
Partilharemos nesta publicação os algares: Pena Traseira 7, Pena Traseira 8, Pena Traseira 9 e Pena Traseira 10.
Figura 1 - Localização dos algares, tendo como referência, o grande campo de lapiás ali existente.
Adverte-se também e mais uma vez que, para sua proteção e da própria cavidade, o espeleólogo tem de ter obrigatoriamente formação!!!
Algar Pena Traseira 7
Figura 2 – Entrada do Algar Pena Traseira 7 (Foto: Jorge Faustino – GEM)Este foi dos primeiros a ser encontrado em prospeção, mas curiosamente foi dos últimos a ser explorado, estávamos à espera da chuva certamente. Não se percebe bem a boca do algar na foto em baixo, devido ao denso mato ali existente.
Descrição:
Encostado a um chouso que divide um grande campo de lapiás abre-se o algar à superfície, a entrada tem cerca de 3,5m, no sentido NO-SE e sensivelmente 1,5m de largura.
Desce-se um poço de 4m, se assim lhe podemos chamar, com a sua base de inclinação no sentido NO de cascalheira e blocos com alguma vegetação que lhe dá um aspeto interessante. Aí, na zona mais baixa no sentido NE, há uma pequena passagem que nos dá acesso a um ressalto de 2m, zona apertada de paredes lisas.
Vários blocos, após alguns terem sido retirados, percebe-se que o chão, coberto por argila, ossos de pequenos animais e calhaus, pode eventualmente ter continuidade, assinalada na topografia.
Geologia:
A gruta aparenta ter um controlo estrutural por duas famílias de fraturas de direcão grosseira NW – SE e NE-SW, subverticais. As camadas regionalmente têm direção aproximadamente NW – SE e inclinação suave para Sul. A gruta desenvolve-se em calcários da formação de Calcários Bioclásticos do Codaçal, datada do andar Batoniano, do Jurássico Médio.
A gruta aparenta tratar-se de um “vadose shaft” de acordo com a definição de Baron, 2003, sendo grutas com desenvolvimento essencialmente vertical que conduzem a água do epicarso para as zonas mais profundas do carso.
Presente:
Interessante este pequeno algar, com paredes forradas de musgo e a esperança que deu ao identificarmos aquela pequena passagem. Retirámos uns valentes blocos e atenção que sente-se uma pequena passagem de ar na base final. Mas o objetivo do projeto não é “esburacar” tudo, mas sim criar informação e partilhá-la.
Figura 3a - Planta do Algar Pena Traseira 7
Figura 3b - Perfil desdobrado do Algar Pena Traseira 7
Figura 3c - Ficha de equipagem do Algar Pena Traseira 7
Fotos do Algar Pena Traseira 7 por Jorge Faustino (GEM)
Algar Pena Traseira 8
Figura 4 – Entrada do Algar Pena Traseira 8 (Foto: Jorge Faustino – GEM)Este foi encontrado também em prospeção e não fosse o grande tronco a atravessar a entrada, quase tínhamos caído dentro dele…
Descrição:
O algar abre-se à superfície com pequena boca de 1,5 m, de comprimento no sentido NNO-SSE, que na sua zona mais larga tem 1 m, aproximadamente. Segue-se poço de 8 m, sendo as suas paredes irregulares com vários pequenos ressaltos. A base de alguma cascalheira e muita argila é um pouco mais larga, terminando ai o algar.
Geologia:
A gruta aparenta ter um controlo estrutural por uma fratura de direcão grosseira NW–SE subvertical. As camadas regionalmente têm direção aproximadamente NW – SE e inclinação suave para Sul. A gruta desenvolve-se em calcários da formação de Calcários Bioclásticos do Codaçal, datada do andar Batoniano, do Jurássico Médio.
A gruta aparenta tratar-se de um “vadose shaft” de acordo com a definição de Baron, 2003, sendo grutas com desenvolvimento essencialmente vertical que conduzem a água do epicarso para as zonas mais profundas do carso.
Presente:
Este foi daqueles que a primeira vista parecia que tinha potencial para desenvolver, mas como tantos outros…
Atenção, que colocámos além do tronco umas boas lajes a cobrir parte da entrada, para evitar quedas desnecessárias.
Bom já está cadastrado, topografado e agora publicado, para conhecimento geral.
Figura 5a - Planta do Algar Pena Traseira 8
Figura 5b - Perfil desdobrado do Algar Pena Traseira 8
Figura 5c - Ficha de equipagem do Algar Pena Traseira 8
Fotos do Algar Pena Traseira 8 por Jorge Faustino (GEM)
Algar Pena Traseira 9
Foi encontrado num dia solarengo, andámos um pouco para Sul e valeu bem a pena, ao lado do caminho ali estava ele. Nesse dia o José Ventura deu-nos um “abafo”, encontrou-os todos; até já chateava…
Figura 6 - Zona próxima do Algar Pena Traseira 9 (Foto: Jorge Faustino - GEM)
Figura 7 - Entrada do Algar Pena Traseira 9 (Foto: Jorge Faustino - GEM)
Descrição:
Encostado a um estradão, num campo de lapiás irregular abre-se o algar à superfície com um diâmetro aproximadamente de 1,5m. Alguns blocos bem entalados, vegetação e um poço de 9m com entrada estreita. Ao fim de aproximadamente 3m, aterra-se em prateleira e alarga até a sua base, a qual é composta por argila com vários calhaus “emparedados”, onde se nota terem sido fruto de um trabalho de desobstrução. Aqui a configuração do algar muda, no sentido NNO, por detrás de uns blocos em zona com chaminé de 7m. Em baixo nota-se uma descontinuidade no sentido ONO- ESE, onde na zona mais larga tem-se acesso a um novo poço de 6m.
A base de blocos, composta por cascalheira e argila, tem a mesma orientação, sendo mais larga que a cabeceira do poço. Nas extremidades encontramos grandes blocos ali entalados, terminando aqui o algar.
Verificámos a presença de salamandras e tritões.
Geologia:
A gruta aparenta ter um controlo estrutural por duas famílias de fraturas de direcão grosseira WNW – ESE e NNE-SSW, subverticais. As camadas regionalmente têm direção aproximadamente NW – SE e inclinação suave para Sul. A gruta desenvolve-se em calcários da formação de Calcários Bioclásticos do Codaçal, datada do andar Batoniano, do Jurássico Médio.
As paredes da gruta têm caneluras de dissolução. A gruta aparenta tratar-se de um “vadose shaft” de acordo com a definição de Baron, 2003, sendo que grutas com desenvolvimento essencialmente vertical que conduzem a água do epicarso para as zonas mais profundas do carso.
Presente:
Interessante este pequeno algar e com muita vida. Verificámos que já tinha sido explorado e foi ali feito um trabalho de desobstrução. Contudo não estava no cadastro, mas já esta e com a respetiva topografia e ficha de equipagem. Siga…
Figura 8a - Planta do Algar Pena Traseira 9
Figura 8b - Perfil desdobrado do Algar Pena Traseira 9
Figura 8c - Ficha de equipagem do Algar Pena Traseira 9
Fotos do Algar Pena Traseira 9 por Jorge Faustino (GEM)
Algar Pena Traseira 10
Chegámos a este graças à partilha da localização e “relato” de exploração dos amigos, António Afonso e Nuno Rodrigues do A.R.C.M. e valeu bem a pena. Mais um, siga…
Figura 9 – Entrada do Algar Pena Traseira 10 (Foto: José Ventura – GEM)
Descrição:
No rebordo de um grande campo de lapiás, abre-se o algar com uma pequena boca de orientação NNE-SSW, este com cerca de 1m x 0,5m. Segue-se um poço de 9m que alarga consoante descemos, a base é de vários blocos, cascalheira e argila com inclinação no sentido SSW. No recanto mais a SSW, temos novo poço agora com 12m e a sensivelmente 3m na descida temos um pequeno ressalto com uma ponte de pedra. A partir daqui o poço alarga e comunica também com outra chaminé de zona mais à frente no desenvolvimento da cavidade. A base é de cascalheira e muita argila, com inclinação e desenvolvimento no sentido WNW.
Figura 10 – Zona próxima do Algar Pena Traseira 10
(Foto: Jorge Faustino – GEM)
Após passarmos uma pequena zona de passagem baixa acedemos a uma pequena sala, se assim lhe podemos chamar, com chaminé alta de 8m de boa largura, descrita atrás. Aqui encontramos as únicas formas de reconstrução da cavidade numa das paredes com alguma calcite. Desce-se um ressalto de 2m numa zona de chão limpo, e encostado a um bom bloco temos um novo poço, agora com 9m.
Após descermos os primeiros 5m encontramos um pequeno patamar com pouca cascalheira, de onde, num recanto a ESE, verificamos nova chaminé com cerca de 5m.
Continuando a descer o pequeno poço aterramos na sua base de pequenas dimensões e com alguma cascalheira. Aqui, após ultrapassarmos uma pequena passagem no sentido NNE – SSO com uma ponte de pedra, acedemos a nova cabeceira de poço, agora de 29m. O poço desenvolve-se numa descontinuidade no sentido WNW-ESE, tem zonas mais largas e outras um pouco mais estreitas. A cerca de 12m na descida afunila realmente bastante, com um pequeno ressalto, voltando a alargar novamente até à sua base de muita cascalheira e alguns blocos. Aqui, no sentido SE, há uma pequena fenda muito apertada que se prolonga na descontinuidade de onde se sente algum “fresco” mas de difícil desobstrução, assinalada na topografia. Terminando aqui o algar.
Geologia:
A gruta aparenta ter um controlo estrutural por duas famílias de fraturas de direcão grosseira NW – SE a E-W e NE-SW, subverticais. As camadas regionalmente têm direção aproximadamente NW – SE e inclinação suave para Sul. A gruta desenvolve-se em calcários da formação de Calcários Bioclásticos do Codaçal, datada do andar Batoniano, do Jurássico Médio.
As paredes da gruta têm caneluras de dissolução. A gruta aparenta tratar-se de um “vadose shaft” de acordo com a definição de Baron, 2003, sendo grutas com desenvolvimento essencialmente vertical que conduzem a água do epicarso para as zonas mais profundas do carso.
Presente:
Algar interessante, como foi descrito pelos nossos amigos que numa exploração rápida nos descreveram o algar tal e qual ele é. A entrada é bonita coberta de musgo e o algar é todo ele de pedra “lavada”, que também lhe dá a sua beleza.
A cerca de 20m de profundidade lá encontrámos um pequeno morcego que ali está a hibernar e lá ficou, como se a nossa passagem fosse algo que o tempo levou…
Figura 11a - Planta do Algar Pena Traseira 10
Figura 11b - Perfil desdobrado do Algar Pena Traseira 10
Figura 11c – Ficha de equipagem do Algar Pena Traseira 10
Fotos do Algar Pena Traseira 10 por Jorge Faustino (GEM) e José Ventura (GEM)
E já está! Já lá vão 20 publicações, venham mais 20…
Bom ano a todos com muitas explorações e outras tantas descobertas!