Ribeiro, José 1,2; Lopes, Samuel 1,4; Rodrigues, Paulo 1,2,3
Grupo de Espeleologia e Montanhismo, Rua Maria Veleda, 6, 7ª Esq, 2650-186, Amadora, Portugal
Núcleo dos Amigos das Lapas Grutas e Algares
Comissão Científica da Federação Portuguesa de Espeleologia
Wind-CAM – Centro de Atividades de Montanha, Rua Eduardo Mondelane, lj44, 2835-116 Baixa da Banheira
Introdução
Amigos, estamos de novo do terreno e a dar continuidade ao nosso projeto. É certo que o Covid-19 travou praticamente toda a nossa dinâmica mas aos poucos recomeçámos novamente a voltar a este cantinho que tanto gostamos.
Aproveitando a zona que tínhamos explorado para a última publicação, ali junto ao algar dos Arames, subimos um monte que nos chamou a atenção e descobrimos 3 pequenos algares. De regresso aos carros encontrámo-nos com o Senhor António Ferraria, conterrâneo ali da Moita do Açor, que nos conhece já há algum tempo pois tem-nos visto muitas vezes por ali. Conversa puxa conversa e lá nos levou a alguns algares por onde passava descalço em miúdo para ir à escola em São Bento.
Muito interessante, estas histórias que fomos ouvindo:
– Ali, acolá onde estão aqueles silvados há dois, mas deitavam tanto fumo que pareciam que lá tinham o diabo…
– Este aqui descíamos com uma corda e uma vela, mas só um pouco pois acolá era muito fundo e só tínhamos 7 anos, éramos novos…
Já para não falarmos do Senhor “Católico”, conterrâneo bem conhecido na zona, que nos indicou mais uns algares e outras tantas historias. Mas lá chegaremos, por agora apresentamos cinco algares: Algar do Rachão, Algar da Rachela, Algar da Rachinha, Algar do Penedo do Pico I e Algar do Penedo do Pico II.
Figura 1 - Localização dos algares, tendo como referencia a localidade de São Bento.
Algar do Rachão
Figura 2 – Entrada do Algar do Rachão (Foto: José Ventura – GEM)Em prospeção num final de tarde encontrámos este algar e verificámos que tinha sido obstruído, não sendo estranho o facto por ali ser um local de pasto e passagem de gado.
Descrição:
Após desobstrução a boca do algar tem sensivelmente 2m de comprimento e na sua zona mais larga meio metro. Ao centro um grande bloco. A abertura é no sentido SO-NE.
Segue-se um poço de 7m de paredes lisas com algumas formas de reconstrução. A base com muita cascalheira e blocos tem inclinação no sentido NE, terminando no final dessa inclinação o algar.Geologia:A gruta aparenta ter um controlo estrutural por uma famílias de fraturas de direção grosseira NE–SW, e com inclinação subvertical. As camadas regionalmente têm direção aproximadamente NW–SE e inclinação suave para Sul, localmente são subhorizontais. A gruta desenvolve-se em calcários da formação de Calcários Bioclásticos do Codaçal, do Batoniano do Jurássico Médio.
A gruta aparenta tratar-se de um “vadose shaft” de acordo com a definição de Baron, 2003, sendo estas grutas com desenvolvimento essencialmente vertical que conduzem a água do epicarso para as zonas mais profundas do carso.
Presente:
Ficámos bastante entusiasmados com este algar. Desobstruímos a boca mas depressa reparámos que a base do poço também tinha sido totalmente obstruída. Paciência, é mais um que fica registado e depois de recolhermos os dados voltámos a tapar a entrada.
Figura 3a - Planta do Algar do Rachão
Figura 3b - Perfil desdobrado do Algar do Rachão
Figura 3c - Ficha de equipagem do Algar do Rachão
Fotos do Algar do Rachão por José Ventura (GEM) e Joana de Capitani (GEM)
Algar da Rachela
O dia avançou mas ainda tínhamos muito tempo. Mãos à obra que aqui há qualquer coisa… vai de desobstruir.Figura 4 – Entrada do Algar da Rachela
(Foto: Joana de Capitani – GEM)
Descrição:
No meio de um caos de blocos reparámos numa pequena fissura. Após desobstrução a boca do algar tem agora com aproximadamente 1m x 1m, seguindo-se um ressalto de 3m bem mais apertado que segue no sentido NNE, tendo sido também desobstruído. No final do ressalto temos um poço de 7m. Aí acompanha-nos na descida uma grande coluna que chega praticamente à base do poço.
O algar termina numa sala que se desenvolve no sentido NNE com cerca de 2 metros, alargando um pouco. Tem algumas prateleiras e muitas formas de reconstrução, algumas de bom volume tornando a sala muito bonita. O chão é de cascalheira e alguma argila. Nota-se no sentido NO-SE duas pequenas fendas no chão que estão colmatadas com calcite, não se sentindo qualquer circulação de ar, terminando aí o algar.
Geologia:
A gruta aparenta ter um controlo estrutural por uma família de fraturas de direção grosseira NE–SW, com inclinação subvertical. As camadas regionalmente têm direção aproximadamente NW–SE e inclinação suave para Sul, localmente são subhorizontais. A gruta desenvolve-se em calcários da formação de Calcários Bioclásticos do Codaçal, do Batoniano do Jurássico Médio.
A gruta aparenta tratar-se de um “vadose shaft” de acordo com a definição de Baron, 2003, sendo estas grutas com desenvolvimento essencialmente vertical que conduzem a água do epicarso para as zonas mais profundas do carso.
Presente:
Curiosamente quem reparou inicialmente naquele possível algar foi o Rui Pina, mas estávamos tão entusiasmados com a descoberta do Rachão que na altura nem ligámos muito. Mais tarde, enquanto parte da equipa estava a trabalhar noutro algar, a restante malta investiu neste. E valeu bem a pena pois as formações são magnificas e é mais um que fica registado e agora partilhado.
Figura 5a - Planta do Algar da Rachela
Figura 5b - Perfil desdobrado do Algar da Rachela
Figura 5c - Ficha de equipagem do Algar da Rachela
Fotos do Algar da Rachela por José Ventura (GEM)
Algar da Rachinha
Ora bem, enquanto parte da equipa estava no algar da Rachela em desobstrução, a restante malta estava a desobstruir a Rachinha, já antes identificada. Com entusiasmo lá a fomos “alargando”.
Figura 6 - Entrada do Algar da Rachinha antes da desobstrução (Foto: José Ventura - GEM)
Figura 7 - Entrada do Algar da Rachinha após desobstrução (Foto: José Ventura - GEM)
Descrição:
O pequeno algar abre-se à superfície e após desobstrução ficou com uma pequena abertura de cerca de 0,5m x 0,3m na sua zona mais larga e com um bloco no centro. Segue-se um poço de 7m onde temos inicialmente um pequeno patamar em caos de blocos que se ultrapassa pela lateral. O poço desenvolve-se inicialmente no sentido E-O mas rapidamente vira no sentido N. Uma rampa de argila acompanha a descida, a qual apresenta algumas formas de reconstrução, nomeadamente muitas estalactites, e rapidamente estamos na base do poço com muita argila.
A Norte vislumbramos um pequeno poço, se assim lhe podemos chamar, com cerca de 0,5m de diâmetro, que alarga na base mas está completamente colmatado de argila e as paredes forradas de calcite, terminando aí o pequeno algar.
Geologia:
A gruta aparenta ter um controlo estrutural por uma famílias de fraturas de direção grosseira NE–SW, e com inclinação subvertical. As camadas regionalmente têm direção aproximadamente NW–SE e inclinação suave para Sul, localmente são subhorizontais. A gruta desenvolve-se em calcários da formação de Calcários Bioclásticos do Codaçal, do Batoniano do Jurássico Médio.
A gruta aparenta tratar-se de um “vadose shaft” de acordo com a definição de Baron, 2003, sendo estas grutas com desenvolvimento essencialmente vertical que conduzem a água do epicarso para as zonas mais profundas do carso.
Presente:
Este deu muita “luta”, deu esperança quando se detetou o pequeno poço na sua base, mas como muitos outros ficou-se por ali. Paciência, coisas de espeleólogos. Fica mais um registado e voltámos a tapá-lo, depois da recolha de dados.
Figura 8a - Planta do Algar da Rachinha
Figura 8b - Perfil desdobrado do Algar da Rachinha
Figura 8c - Ficha de equipagem do Algar da Rachinha
Fotos do Algar da Rachinha por José Ventura (GEM)
Algar do Penedo do Pico I
Figura 9 – O Sr António a indicar-nos mais um algar (Foto: Márcia Cruz – GEM)
Como combinado numa saída anterior, lá estava o Sr. António Ferraria, conterrâneo dali do “paraíso dos algares”, à nossa espera. Numa tarde de calor foi-nos então mostrar uns algares que ele conhece desde muito novo. Fomos por ali fora a acompanhar o Sr António, que com os suas 84 primaveras deu-nos um “baile” de como se anda no campo. Aqui e ali, ao mesmo tempo que nos indicava os algares, foi-nos contando as suas histórias que remontam à sua infância.
Uns dias depois fomos então explorar o algar, numa zona bastante promissora.Figura 10 – Entrada do Algar do Penedo do Pico I (Foto: Márcia Cruz – GEM)
Descrição:
O algar tem 3 aberturas à superfície, uma delas mais a O que tem cerca 3m x 2m mas está coberta com uma bela figueira em que as raízes ocupam praticamente todo o espaço, apesar de ser um destrepe de 3m, pelo que decidimos não perturbar.
A abertura que se encontra no centro é pequena, instável e de difícil acesso, pelo que descemos pela abertura mais a E que tem aproximadamente 2m de comprimento por 0,5m de largura. Segue-se um poço de 11m com dois patamares bem pronunciados à medida que descemos mas sem qualquer continuidade. A base é um caos de blocos com inclinação no sentido ENE e no final a zona fica plana com argila, com algumas ossadas e uma chaminé que na sua zona mais elevada comunica com uma pequena janela em zona bem visível. Já no sentido OSO verificam-se algumas reentrâncias sem qualquer continuidade.
No topo da inclinação deste caos de blocos, um ressalto de 2m leva-nos a um pequeno desenvolvimento no sentido N e que tem uma pequena continuidade em baixo terminando logo aí. No topo do ressalto é bem visível a abertura com a figueira a cobrir a entrada. O chão é um misto de blocos e argila e segue no sentido N, terminando ai o algar com uma pequena chaminé.
Verificámos que o algar tem bastante vida, algumas salamandras e vários tipos de insetos.
Geologia:
A gruta aparenta ter um controlo estrutural por duas famílias de fraturas de direção grosseira N–S e E-W, com inclinação subvertical. As camadas regionalmente têm direção aproximadamente NW–SE e inclinação suave para Sul, localmente são subhorizontais. A gruta desenvolve-se segundo Manuppela et al 2000, na formação de Calcários de Chão das Pias datada do andar Bajociano Inferior do Jurássico Médio.
A gruta aparenta tratar-se de um “vadose shaft” de acordo com a definição de Baron, 2003, sendo estas grutas com desenvolvimento essencialmente vertical que conduzem a água do epicarso para as zonas mais profundas do carso.
Presente:
Agradável surpresa este algar. Apesar de pequeno é um local bem bonito com o sol a entrar pelo poço dando um aspeto muito bonito ao salão, se assim lhe podemos chamar.
Figura 11a - Planta do Algar do Penedo do Pico I
Figura 11b - Perfil desdobrado do Algar do Penedo do Pico I
Figura 11c – Ficha de equipagem do Algar do Penedo do Pico I
Fotos do Algar do Penedo do Pico I por Márcia Cruz (GEM)
Fotos do Algar do Penedo do Pico I por José Ribeiro (GEM)
Algar do Penedo do Pico II
Figura 12 – Entrada do Algar do Penedo do Pico II
(Foto: Rui Pina – GEM)
Este estava mesmo ali ao lado, foi equipar e explorar…
Descrição:
A boca do algar tem cerca de 2m de comprimento e no seu ponto mais largo 1m. Segue-se um poço de 11m tendo no inicio um pequeno patamar e as paredes são forradas de formas de reconstrução e musgo, dando-lhe um aspeto muito bonito. A base é de muitos blocos, ossadas e lixo que se nota ser de outros tempos. No sentido S vemos um pequeno recanto em destrepe onde se observa uma pequena fenda, mas estando entulhada com ossadas e muitos calhaus. Já no sentido N avança-se um pouco, com inclinação no sentido de progressão, e após destrepe termina ai o algar. Nota-se também uma pequena abertura mas completamente bloqueada com muitos calhaus e ossadas.
Verificámos a presença de salamandras.
Geologia:
A gruta aparenta ter um controlo estrutural por uma família de fraturas de direção grosseira NNE-SSW, com inclinação subvertical. As camadas regionalmente têm direção aproximadamente NW–SE e inclinação suave para Sul, localmente são subhorizontais. A gruta desenvolve-se segundo Manuppela et al 2000, na formação de Calcários de Chão das Pias datada do andar Bajociano Inferior do Jurássico Médio.
A gruta aparenta tratar-se de um “vadose shaft” de acordo com a definição de Baron, 2003, sendo que grutas com desenvolvimento essencialmente vertical que conduzem a água do epicarso para as zonas mais profundas do carso.
Presente:
Algar interessante apesar de pequeno. Nota-se que foi alvo de “entulhamento”, se assim lhe podemos chamar. Provavelmente tem continuação se removermos todos aqueles blocos, mas o objetivo do projeto é sobretudo a partilha de conhecimento e para já ficamos por aqui.
Figura 13a - Planta do Algar do Penedo do Pico II
Figura 13b - Perfil desdobrado do Algar do Penedo do Pico II
Figura 13c - Ficha de equipagem do Algar do Penedo do Pico II
Fotos do Algar do Penedo do Pico II por José Ribeiro (GEM)
Fotos do Algar do Penedo do Pico II por Rui Pina (GEM)
E já está mais uma publicação do nosso trabalho. Agora vamos estar centrados na campanha da Contenda mas voltaremos em breve, pois a zona é muito promissora.