Ribeiro, José 1,2; Lopes, Samuel 1,4; Rodrigues, Paulo 1,2,3
Grupo de Espeleologia e Montanhismo, Rua Maria Veleda, 6, 7ª Esq, 2650-186 Amadora, Portugal
Núcleo dos Amigos das Lapas Grutas e Algares
Comissão Científica da Federação Portuguesa de Espeleologia
Wind-CAM – Centro de Atividades de Montanha, Rua Eduardo Mondelane, lj44, 2835-116 Baixa da Banheira
Introdução
Nesta publicação deslocámo-nos mais para a zona entre a Moita do Açor e São Bento. Tal qual onde tínhamos ficado na ultima publicação, muito graças ao Sr. António Ferraria e ao Sr. Católico, conterrâneos e muito conhecedores dos algares que por ali se encontram.
Aproveitamos também o trabalho efetuado pelos nossos amigos do Núcleo de Espeleologia de Leiria (NEL) no algar Covão Sabugueiro e no algar do Bezerro, apresentando-os aqui para enriquecer um pouco mais o nosso projeto. Juntamos assim um bom grupo de algares, uns pequenos outros maiores, mas todos eles deram muito trabalho, conhecimento e convívio que não pode faltar!!!
A saber: Algar do Penedo do Pico III, Algar do Penedo do Pico IV, Algar do Penedo do Pico V, Algar do Bezerro, Algar das Lages, Algar do Católico, Algar Covão Sabugueiro e Algar do Sabugueiro.
Figura 1 - Localização dos algares, tendo como referencia a localidade de Covão do Sabugueiro.
Algar do Penedo do Pico III
Figura 2 – Entrada do Algar do Penedo do Pico III (Foto: Filipe Castro – GEM)Muito graças aos algares indicados pelo Sr. António Ferraria, percebemos que a área tinha potencial para mais algares. Alguma prospeção e ali estava ele à nossa espera.
Descrição:
Após retirarmos alguns blocos para conseguirmos entrar no algar, a sua boca ficou aproximadamente com 1m x 1m, com um bloco que ali ficou entalado mas bem fixo. Segue-se um poço de 7m a descer no sentido SSO com algumas formas de reconstrução, alargando à medida que descemos. A base um pouco mais estreita é de cascalheira e alguma argila. Aqui, no sentido S, temos uma pequena passagem de 3m com inclinação no mesmo sentido. No final e após desobstrução encontramos um pequeno poço de 4m.
Acedemos a uma sala com cerca de 6m x 4m, de teto e base bastante irregulares, blocos de boas dimensões aqui e ali e muitas formas de reconstrução. Na zona mais a S, algumas pequenas aberturas mas colmatadas de argila e cascalheira, terminando ai o algar.
Geologia:
A gruta aparenta ter um controlo estrutural por uma família de fraturas de direção grosseira N-S, subvertical. As camadas regionalmente têm direção aproximadamente NW–SE e inclinação suave para Sul. A cavidade desenvolve-se em calcários da formação de Chão das Pias, datados do Bajociano Inferior, do Jurássico Médio.
A gruta aparenta tratar-se de um “vadose shaft” de acordo com a definição de Baron, 2003, sendo estas grutas com desenvolvimento essencialmente vertical que conduzem a água do epicarso para as zonas mais profundas do carso.
Presente:
Tirámos os blocos que obstruíam a entrada e já em exploração ficámos felizes por não ser mais um “elevador”. Cheios de “pica”, desobstruímos o caminho a seguir e fomos presenteados com uma bela sala. Infelizmente termina aí o algar, mas é mais um que fica cadastrado e aqui por nós partilhado.
E nunca esquecer que voltámos a tapar a sua entrada, pois temos indicação que por vezes o gado anda por aqui a pastar.
Figura 3a - Planta do Algar do Penedo do Pico III
Figura 3b - Perfil desdobrado do Algar do Penedo do Pico III
Figura 3c - Ficha de equipagem do Algar do Penedo do Pico III
Fotos do Algar do Penedo do Pico III (Fotos: Filipe Castro – GEM)
Algar do Penedo do Pico IV
Figura 4 – Entrada do algar do Penedo do Pico IV (Foto de José Ribeiro – GEM)Este estava mesmo ao lado, até pensámos que faria parte do mesmo…
Descrição:A boca do algar tem aproximadamente 1m x 0,5m, sendo a direção no seu comprimento NO-SE. Segue-se um poço de 2m e base com cerca de 1,5m de diâmetro, esta completamente fechada com blocos e calhaus de várias dimensões. Verifica-se pequenos recantos dando a perceber pequenos ocos mas sem presença de qualquer corrente de ar, terminando aí este pequeno algar.Geologia:A cavidade desenvolve-se em calcários da formação de Chão das Pias, datados do Bajociano Inferior, do Jurássico Médio.Presente:Decidimos colocar também este pequeno algar por estar muito próximo do Algar do Penedo do Pico III, para conhecimento geral e também para que os trabalhos não se repitam. E os pequenos também contam!!!
Figura 5a - Planta do Algar do Penedo do Pico IV
Figura 5b - Perfil desdobrado do Algar do Penedo do Pico IV
Fotos do Algar do Penedo do Pico IV (Fotos: José Ribeiro – GEM)
Algar do Penedo do Pico V
Estava um daqueles dias de calor, diria quase insuportável, mas rendeu bem ali a nossa espera. Numa fenda de lapiás bem visível lá estava ele com uns valentes calhaus a tapá-lo…
Figura 6 – Entrada do Algar do Penedo do Pico V (Foto: Filipe Castro – GEM)Descrição:
No rebordo de um campo de lapiás e numa fenda (se assim lhe podemos chamar) bem marcada, abre-se o algar à superfície. A sua entrada é no sentido NNO-SSE com cerca de 1m x 0,5m e um poço de 7m, poço esse que alarga à medida que se desce, inclusive a cerca de 3m de profundidade existe um poço paralelo que volta a ligar na base do poço de descida. São ricas as formas de reconstrução nomeadamente no poço paralelo.
Identificámos também um enorme numero de grandes aranhas protegendo os seus casulos, a sua futura prol. A base é de forte inclinação, tem argila e cascalheira e esta carregada de ossadas de vários animais. Aí percebemos a união dos 2 poços. Um pouco mais à frente ficamos num pequeno patamar onde observamos outro poço de 4m que se desenvolve no sentido SSO e com base de inclinação no mesmo sentido, esta “pejada” de ossadas onde foram identificadas salamandras e vários tipos de insetos. No final deste tramo temos uma pequena abertura no recanto mais a SSO, identificado na topografia.
Terminaria aí para nós o algar, mas identificámos na cabeceira do poço de 4m uma pequena fenda no sentido NNE. Após desobstrução ficou com uma pequena diáclase com desenvolvimento de aproximadamente 5m rica em formas de reconstrução e onde se consegue andar bem em pé. No final outro pequeno poço completamente colmatado de argila, terminando aí o algar.
Geologia:
A gruta aparenta ter um controlo estrutural por duas família de fraturas de direção grosseira NE-SW e NW-SE, subvertical. As camadas regionalmente têm direção aproximadamente NW–SE e inclinação suave para Sul. A cavidade desenvolve-se em calcários da formação de Chão das Pias, datados do Bajociano Inferior, do Jurássico Médio.
A gruta aparenta tratar-se de um “vadose shaft” de acordo com a definição de Baron, 2003, sendo estas grutas com desenvolvimento essencialmente vertical que conduzem a água do epicarso para as zonas mais profundas do carso.
Presente:
Muito interessante este pequeno algar. As formas de reconstrução, as pequenas passagens e claro a “pica” de descobrir algo novo. Não menos importante é estar carregado de vida, pena ter sido em tempos um cemitério de vários tipos de animais. Bom, voltámos a tapá-lo e mais um que fica carregado no nosso cadastro e aqui partilhado para conhecimento geral.
Figura 7a - Planta do Algar do Penedo do Pico V
Figura 7b - Perfil desdobrado do Algar do Penedo do Pico V
Figura 7c - Ficha de equipagem do Algar do Penedo do Pico V
Fotos do Algar do Penedo do Pico V por Filipe Castro (GEM) e Jorge Faustino (GEM)
Algar do Bezerro
Andávamos para ali nós a “bater” terreno e nada, até que aparece um conterrâneo conhecido por ali como Mocho, mas não gosta que o tratem assim, vai se lá perceber. Bom, conversa puxa conversa e lá nos indicou que ali ao longe, a 50 metros dos eucaliptos, está lá um algar encostado à estrada… Bem, escusado será dizer que os 50 metros cresceram muito…
Uns dias depois tivemos conhecimento de quem já tinha explorado o algar, e o porquê do nome!!!
Figura 8 – Entrada do Algar do Bezerro (Foto de Bruno Enes – GEM)Descrição:
Encostado a um estradão que se direciona ao cemitério de São Bento, abre-se o algar à superfície. A entrada tem cerca de 1m x 0,5m, com umas vigas a tapar a entrada. Segue-se um poço de 5m que logo após a entrada alarga o suficiente para se descer à vontade. A base é de muita argila e alguns calhaus e no sentido NNE fecha a progressão. Já no sentido SSO o algar desenvolve-se notando-se irregularidades no teto onde se observa algumas estalactites numa zona em que o teto desce um pouco. As paredes são de pedra lisa e em alguns pontos vemos formas de reconstrução. O chão inicialmente de argila tem inclinação no sentido SSO, virando para E, onde começa a ser de blocos de várias dimensões.
O algar desenvolve-se agora no sentido E e após descida de teto encontramos passagem para uma zona um pouco apertada onde o algar bifurca. Aqui encontramos o teto irregular, muito calhau no chão e paredes também muito irregulares. No sentido ENE a passagem prolonga-se por 5m aproximadamente , começando a subir e terminando um pouco mais a frente. Já no sentido ESE verifica-se probabilidades de continuação tanto no chão como em frente, mas requere muito trabalho de desobstrução pois a passagem é muito estreita, terminando para nós aí o algar.
Geologia:
A gruta aparenta ter um controlo estrutural por duas família de fraturas de direção grosseira NW-SE e NE-SW, subvertical. As camadas regionalmente têm direção aproximadamente NW–SE e inclinação suave para Sul. A cavidade desenvolve-se em calcários da formação de Chão das Pias, datados do Bajociano Inferior, do Jurássico Médio.
A gruta aparenta tratar-se de um “vadose shaft” de acordo com a definição de Baron, 2003, sendo grutas com desenvolvimento essencialmente vertical que conduzem a água do epicarso para as zonas mais profundas do carso.
Presente:
Belo dia de camaradagem! Algar simples mas com alguma história, tivemos conhecimento dela pelos nossos amigos Fael e Hugo do NEL, e ela aqui vai:
O algar do Bezerro foi indicado pelo Sr. Ricardo que vinha com um bezerro acabado de nascer, trazia-o ao seu colo, e ao passar no local o chão abateu e uma das pernas ficou dentro do buraco que se abriu. O Sr. Ricardo informou os elementos do NEL do sucedido que mais tarde alargaram a entrada, desceram o algar e assim foi feita a sua exploração e levantamento topográfico.
Figura 9a - Topografia do Algar do Bezerro
Figura 9b - Ficha de equipagem do Algar do Bezerro
Fotos do Algar do Bezerro por Marco Matias (GEM)
Algar das Lages
Num local muito interessante mesmo encostado ao chouso, ali estava ele. Reparámos claramente que foi obstruído, mas deixa lá ver…
Figura 10 – Entrada do algar das Lages (Foto: Marco Matias – GEM)Descrição:
Encostado a um muro abre-se o algar à superfície com entrada de aproximadamente 1m de diâmetro, abertura irregular preenchida grande parte por blocos e lajes de boas dimensões. No seu canto mais a E vemos um ressalto estreito de 2m por onde se entra no pequeno algar. Apercebemo-nos rapidamente da grande quantidade de pedra que ali foi colocada.
Um pouco à frente vira-se no sentido N sempre a rastejar, mas agora praticamente sem inclinação, até chegarmos a uma pequena sala em que se consegue estar de pé. No teto uma pequena abertura que liga a superfície, paredes irregulares e algumas formas de reconstrução, algumas de bom tamanho. O chão está preenchido com alguns calhaus e muita argila. No canto mais a N uma pequena abertura no sentido O permite que se entre um pouco, subindo com fundo de argila e mais tarde juntando-se ao teto, terminando aí o algar.
Geologia:
A cavidade desenvolve-se em calcários da formação de Chão das Pias, datados do Bajociano Inferior, do Jurássico Médio.
Presente:
Este é mais um pequeno algar que claramente foi obstruída a sua continuação. Verifica-se no terreno ao lado, no sentido O, um abatimento que de alguma forma deve estar relacionado com o algar. Mas o objetivo do projeto não é “esburacar tudo”, mas sim a partilha de conhecimento. E já está, aqui e agora.
Figura 11a - Planta do Algar das Lages
Figura 11b - Perfil desdobrado do Algar das Lages
Fotos do Algar das Lages por Marco Matias (GEM)
Algar do Católico
Este quem nos indicou foi o Sr. Católico, dai o nome que demos ao algar. Vive mesmo ali ao lado, no sitio Casal Velho, conhecedor de muitos algares da zona e tem cá com cada historia para contar…
Figura 12 - Foto do Sr. Católico (Foto: Rui Pina - GEM)
Figura 13 - Entrada do Algar do Católico (Foto: Rute Santos - GEM)
Descrição:
O algar abre-se à superfície com uma pequena abertura de cerca de 1m x 0,5m aproximadamente, normalmente tapado com troncos e pedras. Segue-se um poço de 12m com alguns recantos mas que alarga um pouco na descida. As paredes têm muita argila e algumas pedras, com as quais devemos ter cuidado.
A base com inclinação no sentido O é de cascalheira, argila e muito lixo. Por aí se desenvolve este pequeno algar e após passagem de 3m entramos numa pequena sala rica em formas de reconstrução com aproximadamente 4m x 3m. Por debaixo desta sala encontrámos uma passagem muito apertada no sentido OSO onde tinha sido feita uma desobstrução, da qual desconhecemos a autoria. Passagem muito estreita por onde se chega a um pequeno recanto com aproximadamente 2m x 0,5m. Aí verifica-se uma probabilidade de continuação do algar no seu canto mais a E, sendo muito apertado e na vertical.
Geologia:
A gruta aparenta ter um controlo estrutural por uma família de fraturas de direção grosseira W-E, subvertical. As camadas regionalmente têm direção aproximadamente NW–SE e inclinação suave para Sul. A cavidade desenvolve-se em calcários da formação de Chão das Pias, datados do Bajociano Inferior, do Jurássico Médio.
A gruta aparenta tratar-se de um “vadose shaft” de acordo com a definição de Baron, 2003, sendo estas grutas com desenvolvimento essencialmente vertical que conduzem a água do epicarso para as zonas mais profundas do carso.
Presente:
Segundo relatos de alguns conterrâneos, ao lado desde pequeno algar onde agora se pode ver um grande monte de pedra e argilas, existia a abertura de um algar muito fundo, sendo esta obstruída muito por causa da proximidade da estrada e, segundo os mesmos, para se protegerem animais e pessoas. Pergunto-me se não seria mais simples “vedar”.
Provavelmente aquela pequena abertura, identificada na topografia com ponto de interrogação, comunica a esse suposto algar, não sendo de estranhar a pequena corrente de ar que se sente.
Da nossa parte o trabalho está feito e partilhado aqui para conhecimento geral.
Figura 14a - Planta do Algar do Católico
Figura 14b - Perfil desdobrado do Algar do Católico
Figura 14c - Ficha de equipagem do Algar do Católico
Fotos do Algar do Católico por Rute Santos (GEM) e Rui Pina (GEM)
Algar do Covão Sabugueiro
Este está em exploração pelos amigos do NEL e graças a eles partilhamos aqui algum desenvolvimento dos trabalhos.
A malta do NEL continua em trabalho de desobstrução e com o Covid-19 não tem sido fácil. Aguardamos por mais novidades. Fica aqui uma fotografia da zona e respetivas coordenadas.
Figura 15 - Entrada do algar do Covão Sabugueiro (Foto: Filipe Castro - GEM) Coordenadas : (WGS 84) 39.52189 -8.78920
Figura 16 - Zona do Algar do Covão Sabugueiro, com muro de proteção para evitar possíveis abatimentos no teto da galeria principal (Foto de Filipe Castro - GEM)
Fotos do Algar do Covão Sabugueiro por Filipe Castro (GEM)
Algar do Sabugueiro
Bom, na realidade para este fomos caminhando, colhendo e comendo figos e amoras silvestres, e ao mesmo tempo apresentámo-nos a um conterrâneo que ali passava e que nos indicou este algar.
Figura 17 – Entrada do Algar do Sabugueiro (Foto: Marco Matias – GEM)Descrição:
O algar abre-se à superfície com boca de boas dimensões, 3,5m x 1,5m aproximadamente, com a abertura no sentido NE-SO. Segue-se um poço de 13m, descendo ligeiramente no sentido NO. A base de boas dimensões está completamente atolada em blocos de várias dimensões, alguma argila e bastante lixo, e tem inclinação no sentido NO. Aí, sempre encostado nas zonas mais a NO, percebe-se que o algar está completamente bloqueado. Vemos pequenos ocos a que se consegue aceder em duas passagens em destrepe tanto a NE como a SO, passagens essas que estão completamente entulhadas, terminando aí o algar.
Detetámos a presença de algumas salamandras, principalmente no poço de entrada.
Geologia:
A gruta aparenta ter um controlo estrutural por uma família de fraturas de direção grosseira NW-SE, subvertical. As camadas localmente são subhorizontais. A cavidade desenvolve-se em calcários da formação de Chão das Pias, datados do Bajociano Inferior, do Jurássico Médio
A gruta aparenta tratar-se de um “vadose shaft” de acordo com a definição de Baron, 2003, sendo estas grutas com desenvolvimento essencialmente vertical que conduzem a água do epicarso para as zonas mais profundas do carso.
Presente:
E já esta, um belo poço de entrada, algum trabalho e mais um cadastrado e partilhado.
Figura 18a - Planta do Algar do Sabugueiro
Figura 18b - Perfil desdobrado do Algar do Sabugueiro
Figura 18c - Ficha de equipagem do Algar do Sabugueiro
Fotos do Algar do Sabugueiro por Marco Matias (GEM)
E já está amigos… mais uma publicação do nosso projeto. Em breve chegaremos às 100 cavidades neste pequeno pedaço do PNSAC onde tantas aventuras temos vivido e tão boa gente temos conhecido.