Gruta do Acílio - O Tramo Perdido
2 de Junho de 2021
Introdução
 
Acílio Alexandre, em 2019, ao preparar o terreno para a construção de uma casa, abriu um buraco que dá acesso à gruta. Acílio, curioso, fez uma visita à cavidade e tirou as primeiras fotos. Mais tarde, em conversa com um amigo espeleólogo, contou o sucedido e convidou-o a visitar a chamada gruta do Acílio.
O GEM, GEMA e CISED prepararam uma atividade de fim-de-semana para diversos trabalhos espeleológicos na Serra de Sicó, em que se incluiu a visita e topografia da gruta do Acilio.
Localização
 
A gruta do Acilio fica em Taliscas no Concelho de Penela, Distrito de Coimbra.
Figura 1 - Ilustração Google com localização e implantação das cavidades do Sistema do Dueça.
Enquadramento Geológico
 
Na observação da região de Penela, destaca-se imediatamente o aspeto da conformação orográfica, com as serras a nascente (Serra do Espinhal) e a poente (Maciço de Sicò) (Cunha, 1990), um conjunto de colinas (Colinas Dolomíticas a Sul de Coimbra) (Dimuccio, 2011) e uma depressão (Depressão Marginal) (Santos, 1996). Os diferentes carateres litológicos, juntamente com uma série de estruturas tectônicas, permitem definir as quatro áreas mencionadas como “unidades morfo-estruturais” com uma direção essencialmente meridiana. 
 
Entre a Serra do Espinhal, a nascente, constituída por rochas metamórficas e magmáticas pré-mesozóicas, e o alinhamento de colinas, assimétricas, com imersão a poente, esculpidas em rochas essencialmente carbonatadas (calcário e dolomita do Jurássico Inferior), abre a Depressão Marginal modelada em arenitos e conglomerados Triássicos; acredita-se que esta última esteja associada à evolução da bacia hidrográfica do rio Dueça (Soares et al., 1989; Cunha, 1981). O Maciço de Sicò, no extremo oeste da área, é modelado em rochas também essencialmente carbonatadas (marga, calcário e calcarenito) do Jurássico Médio e Inferior (precisamente Liassic Alto Médio e Dogger).
 
Em resumo, os terrenos no concelho de Penela podem ser agrupados da seguinte forma (Soares et al., 1989): um grupo de unidades líticas mais antigas (Pré-cambrico-Paleozóico), com principalmente rochas metamórficas e magmáticas, que constituem a base hercínica; outro consistindo de formações sedimentares mesozóicas e cenozóicas continentais e marinhas que repousam em discórdia angular sobre as mais antigas e incluem unidades geológicas de idade que vão do Triássico ao Quaternário. Localmente, a área apresenta tectônica relativamente intensa com predomínio de falhas e fraturas cuja orientação oscila entre N-S, NW-SE e NE-SW (Soares et al., 1989).
 
O Sistema Espeleológico do Dueça, o maior e mais interessante sistema cársico subterrâneo ativo até agora conhecido no Maciço de Sicó (CIES et al., 2005; Neves et al., 2003) desenvolve-se essencialmente nas unidades carbonatadas do Jurássico Médio (Dogger). A gruta do Acílio desenvolve-se também nesta formação.
Figura 2 - Formações litoquímicas da gruta do Acilio (Foto: Marco Matias - GEM)
O sistema do Dueça fica situado num bordo de afloramento calcário, tendo sido separada pela depressão existente, onde corre a ribeira Sabugueira. Esta ribeira, onde mais a jusante vamos encontrar a surgência principal do sistema e que lhe muda o nome para Rio Dueça, é alimentada principalmente por águas provenientes do Maciço Hespérico, constituído por xistos e quartzitos. O contacto da ribeira com os terrenos sedimentares do maciço calcário originou perdas (sumidouros) da mesma, tendo a circulação subterrânea se instalado na fraturação existente, dando origem ao essencial das galerias do Soprador do Carvalho com uma extensão conhecida de quase 5km.
Descrição da Gruta do Acílio
 
A entrada da gruta do Acilio encontra-se à cota 208m. A gruta desenvolve-se numa extensão de 53m com 3m de desnível no sentido da gruta Soprador do Carvalho que tem a cota de entrada igual, a 208m do outro lado do vale.  A cavidade, grosso modo é constituída por duas galerias que vêm de N e seguem para SSW.
 
Dada a proximidade entre a gruta do Acílio e o Sistema do Dueça, o facto de ambas as cavidades se desenvolverem na mesma formação, apresentarem morfologia semelhante e coincidência de cotas entre as grutas, podemos considerar que faz parte do Sistema espeleológico do Dueça. Com os dados disponíveis não é possível concluir que a gruta do Acílio é um ramo da gruta do Soprador do Carvalho, no entanto essa hipótese será a mais provável.
Figura 3 - Espeleólogos a topografar (Foto: Marco Matias - GEM)
Figura 4 – Topografia da Gruta do Acílio
Fotos da atividade por Marco Matias (GEM)

Referências  bibliográficas

  • CUNHA, L., (1981) – O Dueça a montante de Miranda do Corvo. Apresentação de alguns problemas geomorfológicos. Revista da Universidade de Coimbra, Coimbra, 29, pp. 451-520.
  • SOARES, A.F., SOUSA, M.B, MARQUES, J.F., (1989) – Esboço geológico dos concelhos de Lousã, Miranda do Corvo, Penela e Vila Nova de Poiares. Projecto de Cartografia geológica carta 19-D Coimbra Sul escala 1:50 000, relatório fotocopiado de 11 p.
  • NEVES, J., SOARES, M., REDINHA, N, MEDEIROS, S., CUNHA, L., (2003) – O Sistema espeleológico do Dueça. Actas IV CNEspeleo Congress, Lisboa (Portugal); UIS 14th International Congress of Speleology (Greece).
  • DIMUCCIO, L.A., (2011). The karstification of Dolomitic Hills to south of Coimbra (Central Portugal) – Stratigraphy and palaeo(karst)s of Coimbra Group (Lower Jurassic). In: Proceeding of First III-UC Researcher Forum, Institute for Interdisciplinary Research University of Coimbra, Coimbra (Portugal) (in press).
 

Texto: Vitor Amendoeira

Revisão: Paulo Rodrigues