Artigo_Parque Biologico Gaia
Levantamento Espeleológico das Minas de Água do Parque Biológico de Gaia – 1ª Fase
03 de Fevereiro de 2021

Eduardo Vieira1; Pedro Aguiar1,3;Pedro Almeida1; Paulo Rodrigues1,2; Vitor Amendoeira1

  1. Grupo de Espeleologia e Montanhismo (GEM), 2650-186 Amadora, Portugal
  2. Comissão Científica da Federação Portuguesa de Espeleologia
  3. Ordinary Member – Artificial Cavities Comissiono of UIS

 
Introdução
Os 35ha do Parque Biológico de Gaia localizam-se num vale agro-florestal definido pelo rio Febros, ocupando um conjunto de antigas quintas. A existência de abundante água subterrânea e o seu aproveitamento antropomórfico deve-se aos seus enquadramentos geográfico e geológico. Como tal, entendeu-se ser de grande importância o estudo das cavidades artificiais – nesta primeira fase do tipo mina de água – existentes no subsolo do parque biológico, contribuindo na sua caracterização e monitorização em toda uma estrutura ecológica, bem como na prevenção de riscos naturais e respetivas implicações por se tratar de um parque aberto ao público.
Estes estudos, que podem ser multidisciplinares com mais ou menos rigor científico, tem sempre um valor acrescentado quando auxiliados por equipas de espeleólogos. Estes, pelo facto de estarem habilitados a aceder a locais confinados em subsolo, podem contribuir com as suas valências, trazendo mais detalhe e rigor.
Agradecimentos
Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia Parque Biológico de Gaia
Localização
Exploração espeleológica das minas de água existentes no Parque Biológico de Gaia, numa área aproximada de 35ha, nas freguesias de Avintes e Vilar de Andorinho, do concelho de Vila Nova de Gaia.
Figura 1 - Localização das entradas das Minas: Galerias(MG) e Poços(MP)
Geologia
O Parque Biológico de Gaia encontra-se instalado em terrenos pertencentes a duas formações geológicas distintas: os Granitos do Porto, que ocupam a maior parte da área do parque e a formação de Migmatitos, gnaisses micaxistos e xisto luzentes, presente no quadrante NE do parque.
A formação de Migmatitos, gnaisses, micaxistos e xisto luzentes, é composta por rochas metamórficas ou seja rochas que resultam da acção de processos diagenéticos (com acção de calor e pressão) sobre rochas pré-existentes, as quais apresentam muitas vezes intensa deformação. Estas rochas apresentam geralmente foliação, vulga xistosidade. Esta formação pertence ao Complexo Xisto- Grauváquico Ante-Ordovícico e séries metamórficas derivadas, tendo uma idade superior a 488 milhões de anos. Esta formação foi interceptada pelo Granito do Porto.
Já os Granitos do Porto formaram-se pela arrefecimento lento, em profundidade, de magmas ácidos que ascendem à superfície através da erosão das rochas sobrejacentes e ou fenómenos de diapirismo. Tratam-se de rochas de cor, clara composta sobretudo por quartzo e feldspato com cristais visíveis a olho nú, não porfiróide. Estes granitos apresentam ainda duas micas – a biotite e a moscovite O tamanho dos grãos é médio a grosseiro. Datações radiométricas atribuem ao granito uma idade de 318 ± 2 milhões de anos.
Os granitos e xistos são do ponto de vista hidrogeológico hard rocks, em que a circulação das águas se faz através da fraturas e zonas alteradas das rochas, sendo a permeabilidade e outras características hidrogeológicas controladas pelo estado de alteração e fraturação das rochas. As zona mais alteradas e fraturadas são à priori as mais produtivas. Este tipo de rochas apresenta geralmente caudais relativamente baixos, sendo as minas um tipo de captação apropriada para estas litologias. A mina capta águas de várias zonas de maior fraturação ou alteração conduzindo-as via um pendor suave para a sua entrada onde a água pode ser captada e ou armazenada por uma pequena represa permitindo o seu uso.
Mina 001 – Quinta da Cunha de Cima (Ganso Patola)
A mina galeria 001 localizada junto aos gansos patola com uma cota de entrada a 87m a sua galeria principal tem uma orientação maioritariamente a 60º NM. A mina tem um desnível de 5m e desenvolve por 108m. À entrada da mina foi construído um tanque e uma represa, já no seu interior o nível máximo da água no pico do Verão é de 50/60 cm.
Figura 2 – Entrada Mina Ganso Patola
Figura 3 – Água represada e inicio da bifurcação para as 2 galerias
A meio da galeria está localizado um poço vertical com 8m que faz ligação com a superfície, as laterais da galeria junto ao poço estão parcialmente derrocadas, contudo a galeria mantém a integridade.
Na parte final da galeria existe uma secção do teto que colapsou e deu origem a uma represa que retém a água que vem da nascente (ver topografia).
Esta represa esconde 2 galerias, ambas orientadas a 30° e obstruidas no final. Na da esquerda localizámos perfeitamente uma abundante nascente.
Perspectivas
Esta mina tem um grande potencial como mina de água, contudo a limpeza e remoção dos colapsos seria muito trabalhoso e dispendioso. É possível colocar um tubo direto do tanque para a nascente para manter a captação de água.
Figura 4 – Topografia da Mina Ganso Patola
Fotos da Mina Ganso Patola por Pedro Almeida (GEM)
Mina 003 – Mina da Cunha de Cima (Lontras)
A mina galeria 003 é composta por duas minas independentes que devido à sua reduzida dimensão contabilizamos como uma mina. Estão localizadas junto às Lontras com uma cota de entrada a 87m, a sua galeria principal tem uma orientação maioritariamente a 5º NM na mina A e na mina B 70º NM. A mina A tem um desenvolvimento de 24m e a mina B de 8m.
À entrada foi construída uma represa que dá acesso às duas minas independentes.
O nível máximo de água no pico do Verão na mina A é de 40cm e na B de 20cm.
A mina A tem uma grande secção inicial onde as paredes laterais e teto foram construídos com pedra enlotada.
Figura 5 – Entrada da Mina das Lontras
Figura 6 – Mina das Lontras (Galeria A)
Figura 7 – Mina das Lontras (Galeria B)
Figura 8 – Topografia da Mina das Lontras
Fotos da Mina das Lontras por Pedro Almeida (GEM)
MG 014 – Quinta de Sto. Tusso (Mina da Catanora)
A mina galeria 014 está localizada à cota de entrada a 62m e a sua galeria principal tem uma orientação maioritariamente a 135º NM. Apresenta um desnível de 4m e desenvolve por 41m. Na parte inicial da mina tem pequenos colapsos laterais e o nível da água no pico do verão ronda os 50cm. No contexto geral é uma mina muito bem preservada e estável.
Figura 9 – Entrada da Mina da Catanora
Figura 10 – Desenvolvimento da Mina da Catanora
Figura 11 – Topografia da Mina da Catanora
MG 015 – Quinta de Sto. Tusso (Mina dos Carneiros)
 
A mina galeria 015 localizada junto ao cercado dos carneiros apresenta uma cota entrada a 54m e a sua galeria principal tem uma orientação maioritariamente a 110º NM, com um desnível de 1,3m e desenvolvimento de 30m.
 
Na parte inicial da galeria(Fig. 4.1), uma secção do teto colapsou e deu origem a um buraco em forma de poço, obstruindo por completo a passagem. De modo a dar continuidade aos trabalhos foi necessário neste ponto a equipa de espeleólogos proceder a uma desobstrução. A água presente na galeria deve-se ao facto deste colapso atuar como represa e reter cerca de 5cm de água na secção central, o último terço da galeria está completamente seco e apresenta vários colapsos nas laterais e teto.
 
No terreno, calculámos com base nas cotas que do término do colapso à superfície teríamos entre 5 e 7 metros de solo. O colapso foi localizado na superfície junto a um muro de pedra. A mina deveria ser alvo de uma intervenção urgente devido ao alto risco de colapso total do solo naquele ponto, que será agravado no inverno com as chuvas.
Figura 12 – Entrada da Mina dos Carneiros
Figura 13 – Pormenor do colapso (A)
Figura 14 – Topografia da Mina dos Carneiros
MG 007 – Quinta Sto. Tusso (Mina Biorama)
 
A mina galeria 007 localizada a uma cota de entrada a 77m a sua galeria principal tem uma orientação maioritariamente a 115º NM. A mina tem um desnível de -3m e um desenvolvimento de 53m.
 
Ao longo de toda a galeria existem vários colapsos devidamente identificados na topografia. A meio da galeria principal existe uma galeria do lado esquerdo com orientação a 10º NM com 6,8m que termina num colapso que impede a progressão da equipa.
 
A entrada da mina está seca e no seu interior existem várias zonas secas que corresponde na sua maioria aos locais dos colapsos.
Figura 15 – Entrada da Mina Biorama
Figura 16 – Pormenor (B)
As restantes secções identificadas com água têm no pico do verão pouco mais de 30cm de altura, isto devido aos colapsos que atuam como represas. Não detectámos qualquer vestígio de nascente.
 
No tramo da galeria “B” detectámos uma redução drástica de oxigénio, o final da galeria está obstruído por um colapso que impossibilita a passagem e a entrada tem cerca de 40cm de altura devido a outro colapso que a fechou parcialmente.
Figura 17 – Topografia Mina Biorama
Fotos da Mina Biorama por Pedro Almeida (GEM)
Conclusões
Na primeira fase efectuou-se a localização das Minas e suas caracteristicas. Desenvolveu-se o trabalho de fotografia e topografia nas galerias horizontais. Estes trabalhos foram efectuados em finais de 2019 e terminados em 2020.
A fase 2 dos trabalhos terá inicio na Primavera de 2021, com o levantamento e caracterização dos poços.
Referências  bibliográficas
 
  • Carrington da Costa, J., Teixeira, C., 1957. Carta Geológica de Portugal na escala de 1/50000. Notícia Explicativa da Folha 9-C (Porto). Serviços Geológicos de Portugal, Lisboa,p 38
  • Teixeira, C., 1962. Carta Geológica de Portugal na escala 1/50000: Notícia explicativa da folha13-A (Espinho), Serviços Geológicos de Portugal, Lisboa, 28 p
  • Costa, J. C. & Teixeira, C., 1957. Carta Geológica de Portugal na escala de 1:50000, Notícia explicativa da folha 9-C (Porto), Serviços Geológicos de Portugal, Lisboa, 38 p
  • Narciso Ferreira, Ângela Almeida, Helena Sant’ Ovaia, ?; Património Geológico de Portugal, Inventário de geossítios de relevância nacional, Granito do Porto, pode ser consultado na página do Património Geológico de Portugal
Redação: Eduardo Vieira, Pedro Almeida e Vítor Amendoeira Geologia: Paulo Rodrigues Fotografia: Pedro Almeida Exploração e Topografia: Eduardo Vieira e Pedro Almeida