Poco do Limarinho
Trabalhos Espeleológicos no Parque Arqueológico do Vale Superior do Rio Terva
5 de Dezembro de 2021

Vitor Amendoeira1, Marta Borges1, Fortunato Videira1

  1. Grupo de Espeleologia e Montanhismo, Rua General Pereira de Eça, nº30, 2380-075 Alcanena
Email de correspondência: geral@gem.pt

 
Introdução
O vale e o seu rio Terva configuram um amplo alvéolo em concha aberta para Sul, com inúmeras colinas, outeiros e lombas, onde afloram as massas graníticas modeladas pelos movimentos tardi-hercinicos, apresentando muitas dessas massas graníticas veios ou filões quartzíferos que incorporam mineralizações correspondentes às jazidas primárias de ouro (Ramos, 2015).
 
As minas do Limarinho constituem a expressão paisagística da mineração antiga do Vale do Terva. Para além da exploração a céu aberto, de que se destaca os desmontes realizados, como revelam as cortas, trincheiras e pirâmides residuais surge um poço vertical e uma galeria de escoamento de água.


Localização

O Vale do rio Terva situa-se no Norte de Portugal, no distrito de Vila Real, Município de Boticas.
Mapa do Parque Arqueológico do Vale do Terva
Figura 1 – Mapa do Parque Arqueológico do Vale do Terva

Atividades de Campo

17 de Julho

Iniciámos os trabalhos na mina de Água de Limarinho. A primeira ação efetuada foi limpar o mato junto ao dique da entrada e abrir o dique. A água que tocava o teto da mina, esteve a escoar por gravidade com um caudal aceitável durante 3 horas, tendo o nível de água baixado cerca de 70 cm. A saída de água foi melhorada para permitir escoar essa água por gravidade.
 
No período da tarde, colocámos uma bomba de água (com um caudal aproximado de 16000 litros de água por hora) que bombeou durante 2 horas. O nível de água desceu cerca de 10 cm em relação à cota inicial, o que nos deu indicação de recarga a montante.
 
Deixámos a água da mina a descarregar por gravidade durante uma semana.
Figura 2 - Mato à entrada da mina de água
Figura 3 - Colocação da bomba de água na mina
Figura 4 – Espeleólogo a descer o poço
24 de Julho
A mina estava a descarregar por gravidade a uma velocidade muito baixa, corria um fio de água. Para acelerar o processo colocámos a bomba de água a funcionar. Esta esteve 3:50 horas a descarregar.
Parte da equipa foi topografar o poço. No poço, o cadáver de um animal encontrado na anterior visita já se tinha decomposto. Assinalámos a presença, na base do poço, de uma rã e uma cobra.
No período da tarde colocámos a bomba a funcionar mais três horas e tentámos progredir na galeria. O nível da água na zona da bomba dava pelos joelhos. A galeria tem uma secção de 1,70 metros de largura por 1,90 metros de altura.
Iniciámos a progressão, a base da galeria começou a descer e enterrávamo-nos em sedimentos até aos joelhos, fazendo com que o nível da água chegasse pelo peito. A progressão tornou-se extremamente difícil e insegura. Já conseguimos ver um ressalto com algumas rochas, possível um abatimento a cerca de 80 metros da entrada.
Decidimos abortar a exploração por questões de segurança.
 
Solicitámos cooperação à Câmara Municipal de Boticas, para que esta disponibiliza-se uma bomba de maior débito, de modo a se poder progredir em segurança e vencer o caudal de água proveniente da mina.
 
Ao final do dia a galeria ficou em carga e a escoar por gravidade.
 
A Câmara Municipal de Boticas informou que os Bombeiros de Boticas iriam ajudar na missão de escoar a água e agendou-se a data para a operação para 5 de agosto.
 
Dia 3 de agosto os bombeiros foram avaliar o local e estiveram hora e meia a bombear água escoando 90.000 litros. No dia 4 à tarde voltaram e a recarga já tinha subido o nível da água. Voltaram a drenar mais 90.000 litros.
Figura 5 - Topografia da Mina – Poço do Limarinho

5 de Agosto

Eram 9:15 horas quando os bombeiros iniciaram a operação de bombeamento. Após 1:15 horas tínhamos condições para entrar.
 
A progressão foi feita sensivelmente com o nível de água pelos joelhos. Após 36 metros de progressão encontrou-se um ressalto com 70 centímetros de altura de areia coberto por uma fina camada de argila. Conseguimos, de joelhos, progredir até um caos de blocos a 42 metros do inicio do ressalto. Trata-se de um desmoronamento onde a água passa entre blocos e a parede. Recolhemos dados topográficos e efetuámos fotografias.
Figura 6 - Obstrução no fim da galeria
Figura 7 - Sedimentos na parte final da galeria
Figura 8 - Topografia da Mina de Água do Limarinho
Conclusões
 
Da exploração efetuada podemos concluir que:
i) A mina de água tem na zona explorada um desenvolvimento de 78m com 0,5m de desnível;
ii) O Poço do Limarinho tem uma profundidade de 15m e um desenvolvimento de 19m;
iii) Na desobstrução onde se suspendeu a exploração está-se a 62 metros de distância do Poço do Limarinho (em linha reta) e 10 metros abaixo da cota da base do poço;
iv) A mina de água tem uma recarga de água elevada. 90.000 litros de água foram repostos em menos de 12 horas;
v) Quando a mina está em carga, o caudal é baixo na saída motivado por os níveis serem possivelmente iguais dos dois lados da obstrução. Esta situação antevê provável existência de galerias inundadas a montante tornando perigosa a desobstrução.
Recomendações
Para fazer a desobstrução na mina de água, será necessário:
i) Rebaixar a entrada com retroescavadora para a água fluir por gravidade, com um caudal maior;
ii) Retirar todo o sedimento;
iii) Após escoamento da água iniciar a desobstrução. Este trabalho requer avaliação de um geólogo ou Eng. de Minas.
Figura 9 - Perfil do terreno com implantação da mina de água e poço à escala
Referências  bibliográficas
  • MARTINS, C. M. B. (2008a) – A exploração mineira romana e a metalurgia do ouro em Portugal. Braga: Universidade do Minho (Cadernos de Arqueologia. Monografias n.º 14)
  • RAMOS, J. (2015) – Recursos minerais da região do Rio Terva(Concelho de Boticas. Em C. M. Martins (Ed.) Exploração Mineira Aurifera da Época Romana. Da Extração ao Paleoambiente (pp.19-36). Boticas: Câmara Municipal de Boticas.
Texto: Vitor Amendoeira (GEM)
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